domingo, 21 de março de 2010

A Saga Cabeluda

Faz tempo que estou insatisfeita com meu cabelo. Vivo mundando ele e no começo adoro, porém me canso facilmente.
Até 2007 usei cabelos longos, "lisos" (pelo menos gostaria que fossem) e da minha cor natural. Em 2008 comecei a fazer luzes, para dar um toque diferente, e cortei minha franja. Deixei ela crescer e no meio do ano cortei de novo. Em 2009 eu estava cansada daquele cabelo. Deixei a franja crescer (de novo) e comecei a usar o cabelo dividido do lado. Minha ideia era usar algo assim:
Mas como não sou nenhuma Rita Hayworth, me contentei com um cabelo lisão e, vez ou outra, fazia o cabelo glamuroso.

Na metade de 2009 fui viajar e, enquanto pegava um avião para voltar para casa, lia um livro sobre cinema. Abri o livro justo na página que falava sobre Pulp Fiction (1994) e falei "meu cabelo será igual ao de Mia Wallace."
Mal cheguei em casa, fui logo para o cabelereiro e cortei ele inteirinho, sem pensar duas vezes. Fiquei feliz com meu corte à la Mia por exatos 3 meses. Mas não, eu queria mais, queria mais curto, queria preto, queria igual ao da Louise Brooks.
Cortei ele um pouco mais curto, mas não o suficiente. Ele foi crescendo e, em dezembro, fui arrumar o corte. O que era um penteado certinho acabou virando algo meio punk e errado, pois minha cabelereira repicou o cabelo inteiro. Além do quê, as luzes que já estavam na metade do cabelo, ficaram nas pontas repicadas, causando um efeito "pontas luminosas".

Voltei lá alguns dias depois e decidi pintar meu cabelo de preto. Tomei coragem e pintei. Logo que me revelaram o cabelo eu não sabia o que pensar. Estava com cara de Branca de Neve, pois sou muito clara e ainda por cima com um cabelo pretão!
"Quanto mais você lavar mais rápido sai a tinta" me disse a cabelereira
"Espero que sim", pensei
E lá fui eu encarar o mundo com meu cabelo pretão. Com o tempo ele foi ficando mais desbotado mesmo e até passei a gostar mais da sua aparência. Mas, como nada é perfeito, ele começou a crescer e não fiquei com vontade de pintar de novo. E, juntando a vontade de mudar de penteado (não tenho muitas opções com cabelo curto) e a inveja do cabelo de Grace Kelly, comecei a sentir saudades de ter cabelo longo e resolvi deixá-lo crescer.

Porém, após ver fotos de Carey Mulligan e outras mulheres de cabelo bem curtinho e loiro fiquei meio em dúvida. Não sabia se cortava mais curtinho ainda e pintava de loiro, ou se deixava crescer até um pouco mais que o ombro e fazia meus cabelos anos 30 e 40.
Decidi deixá-los crescer, até porque se cortar muito curto e ficar feio, não tem volta.


Tentei de várias formas jogar com meu cabelo curto. Dividi do lado, penteei para trás, usei meio rabo, tentei fazer alguma coisa meio anos 60, com "beehives" improvisados, até tentei (e não consegui) fazer finger waves. Mas quanto mais eu mexo, mais ele parece não parar no lugar.

Agora, caro leitor, estou com um cabelo no pescoço, liso, preto com raízes claras com uma franja que não pára no lugar. Espero que ele não demore para crescer porque logo logo penso em pintar de loiro e usar tipo Marlene Dietrich para depois fazer um Grace Kelly.

Ah, quem me dera ter sido Ginger Rogers...
Mais algumas divas do cabelereiro:

Para Biju, a musa dos cabelos.

domingo, 7 de março de 2010

Dia Internacional da Mulher: uma homenagem às mulheres de verdade


 
Acabou o Oscar e comemoramos o Dia Internacional da Mulher recebendo a primeira mulher a ganhar Oscar de melhor diretor, Kathryn Bigelow. "The time has come", disse Barbra Streisand ao ler o papel da ganhadora. E, por mais que receber esse título fosse meu grande sonho, não posso deixar de sentir que venci uma luta.

Tendo dito isso, começo a escrever agora sobre as "mulheres de verdade".

Outro dia estava conversando com um amigo e comentei que "me apaixonei por Marlene Dietrich no momento que assisti essa cena":


Nunca houve ninguém antes nem depois dela no momento em que, com toda sua postura ela tira lentamente a fantasia de gorila, ajusta delicadamente a peruca black power loira, sobe e canta, mantendo a postura de rainha do universo, musa inatingível, Vênus loira.
Marlene era uma mulher que vestia ternos, gravatas, cartolas, xingava, era alemanzona e "briguenta", mas ao mesmo tempo não perdia sua sensualidade. Li em um site que "the reason Marlene Dietrich was better received by males as sex object was that she was the kind of woman who was butch enough to drink a man under the table, but also could be sexy in an aggressively kittenish type of way." Creio que nunca vi definição melhor para ela.

Junto com Marlene posso citar também Katharine Hepburn, outra atriz com uma personalidade ridiculamente forte e "pérolas" como: "Life is hard. After all, it kills you.", "Life is full of censorship. I can't spit in your eye." ou "If you want to sacrifice the admiration of many men for the criticism of one, go ahead, get married." Eu poderia passar dias e dias citando frases engraçadas e inteligentes de Katie, mas a que escolho para hoje é "I never realized until lately that women were supposed to be inferior." Imagine viver em uma época em que mulheres eram completamente inferiorizadas e não tinham direito de escolha. Sempre escolhendo papéis inteligentes, marcantes e fortes, Katherine foi uma das pioneiras de um gênero cinematográfico que se desenvolveu e passou a ter o nome de screwball comedies.

Mas a rainha das "comédias malucas" foi outra grande mulher, Carole Lombard. Já falei um pouco dela aqui. Mas aproveitando a oportunidade, posto uma frase que ela disse que me deixa extasiada: "I've lived by a man's code designed to fit a man's world, yet at the same time I never forget that a woman's first job is to choose the right shade of lipstick." Ela sabia exatamente seu lugar naquela sociedade que estava mudando com a chegada da Guerra: uma mulher que pode trabalhar, mas ao mesmo tempo cuidar da casa e ser uma boa esposa. Para aqueles que não sabem, Carole foi a primeira mulher a morrer em linha de dever durante a Segunda Guerra Mundial.


E com a Guerra vieram várias mudanças na vida das mulheres, mas uma em especial: com seus homens em campo de batalha, elas começaram a trabalhar para sobreviver. Não vou entrar em muitos detalhes, mas gostaria de postar uma propaganda da época em que as mulheres trabalhadoras são aconselhadas a não usar o corte de cabelo da moda, o peek-a-boo, que foi criado pela atriz pequenina Veronica Lake.


Poucos diretores da época conseguiram retratar uma mulher "de verdade". A grande maioria era bobinha, sonhadora, iludida e dependente de um homem. Um que fugia à regra foi Howard Hawks, que criou seu "ideal de mulher" inspirado em sua ex-mulher, a socialite Lady Nancy "Slim" Gross Hawks Hayward Keith. Slim tinha um gosto impecável para roupas, bom papo, fumava como uma chaminé, bebia mais do que conseguia, era do grupo dos garotos, tinha uma voz grossa e intimidadora, mas nunca perdia seu toque de feminilidade. Hawks queria ver isso em um filme: uma mulher que desse o melhor de si. Não uma mulher fortona e má, mas uma mulher que desse o troco na mesma moeda, que não chorasse toda vez que seu homem fosse embora, uma mulher "insolente". Tão insolente quanto os homens que estrelavam nas telas (vide Humphrey Bogart).

Por isso que ao encontrar Lauren Bacall, uma menina jovem, pronta para estrelar em To Have and Have Not (1944), Howard Hawks simplesmente falou "seja minha esposa".
Bacall pegou roupas de Slim, aprendeu a falar como Slim, agir como Slim e até seu personagem recebeu o apelido de Slim.  Sua frase marcante, "You know how to whistle, don't you, Steve? You just put your lips together and... blow." é parte de uma cena maravilhosa que mostra exatamente o que estou falando:


Fora Katharine Hepburn e Lauren Bacall, Hawks tinha mais uma mulher que eu coloco na lista: Rosalind Russell. Ela estrelou ao lado de Cary Grant no filme His Girl Friday (1940), sobre uma jornalista que vai avisar seu ex-marido, também jornalista, que vai se despedir do emprego para casar com outro homem. Mas não, uma mulher assim não vai deixar de trabalhar para ficar com UM HOMEM. Cary acaba arranjando uma reportagem quente para Roz cobrir e ela obviamente não resiste. O filme é rápido, os diálogos são dinâmicos e mais uma vez presenciamos a deliciosa batalha dos sexos. É como se, em um subtexto, as personagens falassem "Você é um saco, não me ouve, não me entende, me irrita profundamente, mais do que qualquer um. Mas mesmo assim....de um jeito estranho...eu te quero".

Para não esticar muito, vou citar algumas mulheres maravilhosas que não tiveram espaço hoje mas não devem ser esquecidas:
 
Lady Diana, Princesa do País de Gales


Hedy Lamarr
  
Amelia Earhart
  
Audrey Hepburn
  
Ida Lupino
  
Joan Crawford
E cito ainda: Judy Garland, Angelina Jolie, Maya Angelou, Alice Guy-Blaché, Virginia Woolf, Hattie McDaniel, Grace Kelly, Sofia Coppola, Lina Wertmüller, Jane Campion, Eleanor Roosevelt, Annie Oakley, Helen Keller, Jacqueline Kennedy, Dorothy Parker, Ella Fitzgerald, Rosa Parks, Oprah Wifrey, Jane Goodall, Coco Chanel, representando muitas outras que vieram e estão para vir.

Dedico esse post às mulheres de minha família, que são realmente admiráveis.

"If there's specific resistance to women making movies,

I just choose to ignore that as an obstacle for two reasons: I can't change my gender, and I refuse to stop making movies."

- Kathryn Bigelow, a primeira mulher a ganhar Oscar de melhor diretor.

Feliz Dia Internacional da Mulher!