terça-feira, 18 de maio de 2010

Indiferença


Quando eu era pequena lembro de ter escrito uma carta para meus pais pedindo desculpas por algo que tinha feito. Provavelmente outra briga com minha irmã. Eles me deixaram de castigo por uma semana. Uma semana sem meus livros, uma semana sem ver TV. É impensável que uma criança de nove anos pudesse ficar sem ver TV e sem ler durante uma semana!
De qualquer forma, escrevi uma carta comovente e muito sincera me desculpando, contando os motivos que me levaram a cometer tal ato, com minha caneta cor vermelha (para ser mais impactante, claro). Também pensei em derramar umas gotas de água para parecer que havia chorado em cima da carta e me mostrar realmente arrependida. Uma vez que a carta ficou pronta, passei ela por debaixo da porta do quarto dos meus pais e voltei para o meu, rezando para que meu plano desse certo. Tinha que dar.
No dia seguinte vou checar se a carta está onde deixei. Não está. Penso que eles devem ter lido e daqui a pouco, quando voltarem para casa irão me desculpar em meio de beijos e abraços. Me conforto com essa ideia, até que, por algum motivo, vou jogar alguma coisa do lixo (provavelmente um Toddynho) e encontro minha carta amassada, como se fosse outra propaganda que vem pelo correio.
Um milhão de coisas poderiam ter acontecido comigo: poderia ter chorado, poderia ter me sentido totalmente arrependida, poderia ter guardado rancor. Mas não. Surpreendentemente (até para mim) não dei a mínima e a única coisa que passou pela minha cabeça foi "Que droga...pelo menos são só mais seis dias."

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