sexta-feira, 4 de junho de 2010

Frank Capra: O que MasterCard não compra


Acabei de assistir You Can't Take It with You (1938), um filme dirigido (obviamente) por Frank Capra, que será assunto desse post.
O filme é sobre a estenógrafa Alice (uma jovem Jean Arthur, mais linda do que nunca) que se apaixona pelo herdeiro de um famoso e poderoso banqueiro, Tony (James Stewart). Ele vem de uma família rica e gananciosa, que só pensa em ganhar mais dinheiro do que pode gastar. Ela, por outro lado, vem de uma família com uma filosofia de vida um tanto diferente: seu avô (Lionel Barrymore), que era um homem de negócios, um dia resolveu que não iria trabalhar mais. E assim, dedicou sua vida a fazer justamente o que ele mais queria: o que gostasse e sentisse vontade. A família ainda tem a mãe de Alice, que decidiu escrever porque uma máquina foi entregue por engano em sua casa; a irmã (Ann Miller), que dança o dia todo e não tira as sapatilhas dos pés; o pai, que fabrica explosivos no porão; e outras figuras muito excêntricas que não ligam para as "regras da sociedade".

Não vou entrar em muitos detalhes, mas eventualmente o pai de Tony, o Sr. Kirby, é confrontado pelo avô de Alice, que diz: "Maybe it'll stop you trying to be so desperate about making more money than you can ever use? You can't take it with you, Mr. Kirby. So what good is it? As near as I can see, the only thing you can take with you is the love of your friends." ("Talvez isso te faça parar de tentar tão desesperadamente fazer mais dinheiro do que pode gastar? Você não pode levar consigo, Sr. Kirby. O que tem de bom nisso? Como eu vejo, a única coisa que você pode levar é o amor dos seus amigos.")




O "amor dos amigos" que é tão abordado nesse filme, é provado na sequência em que os amigos do "grandpa" juntam o pouco dinheiro que eles têm para pagar a multa dele. Algo muito parecido acontece em outro filme do Capra, Mr. Deeds Goes to Town (1936), em que novamente a moral da história é "Seja você mesmo, seja gentil com os outros. Seus amigos sempre estarão lá para você quando precisar."

Realmente, é uma linda mensagem. Mas algo que sempre me perturbou é o porque diachos Frank Capra continua apertando essa mesma tecla em quase todos os seus filmes?

Resolvi que iria ler a biografia dele apra ver se entendia alguma coisa. Não sou nenhuma expert em Frank Capra, tampouco me acho apta a fazer uma análise dos heróis e morais humanitárias de seus filmes, mas posso postar aqui uma mera opinião de uma fã de seus filmes.
Capra era italiano. Foi para os Estados Unidos com uma família gigante de bolsos vazios. Foi pressionado para saír da escola por sua própria família, mas o que o menino mais queria era realizar o "sonho americano." Sem dúvida ele sofreu preconceitos e abusos por ser desprivilegiado e diferente. É daí que surge o típico herói de Frank Capra: nada mais, nada menos do que o homem moderno pós-Guerra. Esse herói questiona o jeito que a sociedade vem funcionando e propõe uma nova maneira dela funcionar: com a alegria pelo seu trabalho e a caridade, ao invés da ganância e do trabalho obrigatório. E não é só isso! Todos esses personagens são muito diferentes daqueles que enfrentam, seja por terem hobbies esquisitos ou por serem pobres. É a revolta dos fracos e oprimidos! E os heróis (normalmente interpretados por James Stewart ou Gary Cooper) são a voz, são os líderes daqueles que são ignorados pelos grandes empresários ou homens de negócio no geral.

Acho muito comovente essa visão do diretor, e seus filmes são muito emocionantes. Mas custo a acreditar que isso aconteça na vida real. It's a Wonderful Life (1946), na minha opinião, é o exemplo definitivo do herói moderno. George Bailey (novamente James Stewart) é um homem simples, se uma cidade pequena. Ele se destaca entre os demais porque sempre cedeu seu tempo para os outros, mas nunca para si mesmo.
Vive o típico sonho americano em casa: uma mulher que é o amor de sua vida e quatro lindos filhos. Dono de uma empresa de empréstimos, é o único que impede o magnata Potter de ter completo monopólio da cidade. Porém, na véspera do Natal, quando perde um cheque de 800 dólares, tudo isso pode acabar e Potter pode finalmente ter controle total sobre a cidade. George considera se suicidar. É nessa hora que seu anjo da guarda vem e mostra a ele como teria sido a vida das pessoas na cidade se ele não tivesse nascido. ATENÇÃO! CONTÉM SPOILERS DO FIM DO FILME! George percebe que a vida é uma maravilha e volta pra casa para ser recebido calorosamente por seus amigos que juntos doam dinheiro o suficiente para sua empresa não afundar.



É isso que não só Capra, mas muita gente, gostaria que existisse: homens com compaixão pelos outros. E talvez seja por isso mesmo que eu goste tanto dos filmes dele, porque é uma ideia muito bonita, mas tão difícil de encontrar nos dias de hoje.
Quem sabe histórias como essas só possam existir na tela do cinema e nas páginas dos livros, mas de um sonhador nascem outros sonhadores e, se esses filmes servirem como uma pequena luz, quem sabe esses sonhadores as tornem realidade.

2 comentários:

  1. Primeiro gostaria de dizer que adorei o teu blog.
    Mas falando de Capra...
    realmente é impressionante. Por mais que ele sempre bata na mesma tecla... é um criador, diretor, roteirista sensacional e deixou a sua marca na história do cinema.

    ResponderExcluir