quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Amizade-relâmpago

O santo bateu, caiu e morreu. Graças a Deus?

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Era uma vez um homem

Segue abaixo duas reportagens retiradas da revista Vida Simples que eu achei simplesmente sensacionais.

Ele voltou
Depois de décadas em que a guerra dos sexos moldou o comportamento masculino, a figura do macho está de volta. Deem tchauzinho, metrossexuais!
texto Ronaldo Bressane

É fato: o cromossomo Y, que determina o sexo masculino, está com os dias contados. As más notícias foram trazidas por cientistas australianos. “O cromossomo Y tem uma larga faixa de DNA, mas está cheio de ‘lixo’, e há apenas 45 genes nele. Não dá para comparar com os 1345 genes do cromossomo X”, diz a doutora Jenny Graves, da Universidade de Canberra. Observando a fauna australiana – incluindo cangurus –, o laboratório australiano descobriu que a cada milhão de anos 7,8 genes Y são perdidos. “Há 166 milhões de anos, o cromossomo Y também tinha 1345 genes”, afirma a pesquisadora. Ou seja – o crepúsculo do macho está em pleno processo. Mas vocês não vão se livrar de nós tão cedo, garotas. “A essa velocidade, o cromossomo Y vai desaparecer em 6 milhões de anos”, sentencia a australiana.

Antes que eu jogasse pedra na doutora Jenny por seu catastrofismo, o bioquímico Franklin Rumjanek, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, refletia: uma vez que o cromossomo Y se especializou em determinar o sexo masculino, se esse ajuste foi aprovado pela seleção natural o Y pode permanecer entre nós por muito tempo. “O que sabemos é que o cromossomo Y já não tem mais origem exclusiva nas gônadas masculinas e, além disso, corre o risco de desaparecer”, diz Franklin, lembrando um experimento da Universidade de Newcastle que criou espermatozoides humanos a partir de células-tronco originárias de um embrião feminino. “Essa bifurcação evolutiva pode significar o fim da hegemonia masculina. Mas também pode ser o arauto da extinção da espécie”, afirma Franklin.


Doce vampiro
Os sinais da derrocada macha se demonstram em estudos biológicos e também em narrativas contemporâneas – como a graphic novel Y: O Último Homem, de Brian Vaughn e Pia Guerra, que enquadra um mundo em que uma catástrofe exterminou todos os homens do planeta à exceção de um, o perseguido Yorick Brown. Pobre Yorick: enquanto a macharia teima em largar a toalha molhada na cama, berrar palavrões na arquibancada e encerar o capô do carro, a trilha evolutiva desdenha e olha para o outro lado da rua. O deus nos acuda agora vem de um estudo comportamental publicado na revista científica Proceedings of the Royal Society: mulheres de sociedades mais civilizadas se interessam por homens que não pareçam tão homens assim.

Usando o site faceresearch.org como base, Ben Jones e Lisa DeBruine, da Universidade Aberdeen, na Escócia, mostraram 20 pares de rostos masculinos a 4800 mulheres de 20 países. No frigir dos ovos, o par de especialistas constata que “em ambientes onde doença e alta mortalidade infantil são altas, as mulheres preferem tipos mais masculinos. Nos EUA ou na Inglaterra, onde analisar planos de saúde é mais importante que brigar contra uma infecção, homens efeminados são mais competitivos”. Ainda suspeito se essa pesquisa funcionaria em países latinos como o Brasil – mas, a julgar pela nova tendência emogótica, as moças estão mais para Robert Pattinson (o doce vampiro da série Crepúsculo) que para Clint Eastwood. É a evolução, estúpido!

A queda é tão iminente que, além do decantado metrossexual e do homem-fofoleto do estudo acima, a revista Slate reportou a tendência: o “macho ômega”. O herói-frouxo é o pesadelo de consumo de mulheres que já se desinteressaram tanto pelo ultracompetitivo alfa quanto pelo confortável beta e partem para o fim da fila – para a raspa do tacho, onde ainda há uma rebeldia recendendo a testosterona. Seu símbolo é o Ben Stiller do filme Greenberg. Quarentão, Greenberg corteja uma gracinha de 25 anos dizendo que, quando criança, sonhava ser astronauta; hoje, mal dirige. Desistiu da carreira de músico e agora banca o carpinteiro, mas nada sério: como diz aos amigos, “está fazendo nada por um tempo”. A Slate toma Greenberg como estereótipo do homem que, no começo dos anos 2000, sentiu o baque da recessão econômica e, confuso com as mudanças no comportamento feminino, reinventou-se num tipo charmosamente desajustado, loser. Para a jornalista Jessica Grose, eis os subtipos ômega:

• Brejeiro: bobo alegre, quando habita os comerciais de cerveja, no caso de ser boa pinta ou acreditar em seu ideal de solidariedade masculina selada por um tintim. Ou triste, quando percebe a roubada em que se meteu: gosta dos amigos, é leal à esposa e aos filhos, mas sente que a vida poderia ser melhor.
• Gameboy: nerd que não toma uma atitude adulta na vida a não ser que, como em um game, seja obrigado.
• Inútil Paisagem: veste-se bem, parece gay, mas não é. Narcisista que habita academias, clubes, bares descolês e espelhos.
• Gênio em Crise: tipo o Caio Blat no filme Histórias de Amor não Duram 90 Minutos, em que interpreta um escritor que não consegue escrever nem se decidir entre a mulher autossuficiente e uma perigosa piriguete.

Nova mulher
Mas, afinal, o que faz de um homem um homem? Como canta Roberto Carlos: “Todo homem que sabe o que quer/ sabe dar/ e querer da mulher”, pode ser uma trilha para os novos pensadores da macheza contemporânea. Escribas como o carioca João Paulo Cuenca, o gaúcho Carpinejar e o cearense Xico Sá deixam o quadro mais claro.

Em recente crônica n’O Globo, João Paulo Cuenca aventa: “Que o homem é a nova mulher até o cinema norte-americano já descobriu”. O autor do romance Corpo Presente compara o priapismo de Porky’s, clássico ca- fajeste de 1982, com 500 Dias com Ela, de 2009, “fita que leva o macho em crise ao paroxismo, com seu protagonista indie-genérico prometendo amor eterno entre choramingos e muxoxos”, e com Crepúsculo (2009), em que o herói “seduzido pela mocinha da fita passará pelo menos dois longas- metragens e meio evitando mordê-la ou levá-la para a cama”. O “vampiro-fofo” de Cuenca nasce de uma demanda feminina, cristalizada no cinema e materializada no “galã-amélia, cozinheiro de mão cheia, companheiro para todas as horas, conselheiro para tardes de compras no shopping e futuro ex-namorado-melhor-amigo”. O viagra metafísico para esse draculete estaria embutido em mulheres poderosas como a atriz Angelina Jolie ou musas do funk como Deise Tigrona. Para Cuenca, somente essas mulheres teriam a capacidade de mostrar de volta o caminho de casa aos novos Bogart, Brando, Eastwood – se é que eles existem (e se é que ainda existe o caminho de casa).

Por sua vez, o poeta gaúcho Carpinejar aposta na canalhice. Canalha, que vem do italiano canaglia, da raça dos cães, designa o que é infame, vil. O aprendizado da macheza, para o poeta, estaria no retorno às origens como vira-latas, cão sem dono sempre disposto a fuçar no lixo, entrar no cio ou uivar para a lua. Pistoleiro solitário, esse espécime contemporâneo de canalha, “quando domesticado, acaba revelando que não era canalha... A canalhice é um excesso de imaginação. A saída é desejá-lo! O canalha procura uma mulher capaz de entendê- lo e que não tente ajustá-lo”, escreve. Esse novo canalha é um animal nascido na geração do divórcio, “de quem foi criado pela mãe e tem mais intimidade com o mundo feminino. Nunca vai ser um coitado: ri de si mesmo e tem capacidade camaleônica de se adaptar”, fecha o autor. Ele faz questão de distinguir o canalha do cafajeste e do pilantra. “O canalha não coleciona mulheres; realmente as ama”, escreve.

O cearense Xico Sá, em seu novo CHABA- DA-BA-DÁ – Aventuras e Desventuras do Macho Perdido e da Fêmea Que se Acha, avisa: “Cuidado, frágeis!, eles estão perdidos, sejam metrossexuais, übersexuais ou brechossexuais (aqueles que só usam roupas com encosto de brechó). Fracos, não aguentam o tranco das mulheres mais destemidas. Arrotam macheza nos botecos, mas logo que põem as patas em casa, uivam para a lua minguante e sonham com uma chuva de coleiras”, escreve. E aí, como registra esse canalha lírico, são as mesmíssimas mulheres que pedem uma esmola do coração dos mesmíssimos homens. Para ilustrar, a seguinte conversa pescada por Xico de uma moça num bar de São Paulo: “Antes um bom canalha de ressaca que um saudável bom moço perfumado com a boca sempre cheirando a antisséptico!”

O que faz de um homem um homem?
Prefiro lembrar uma imagem simples, criada por Cormac McCarthy em sua obra-prima A Estrada. Não que ele esteja exatamente respondendo à minha pergunta. McCarthy é um contador de histórias, e esta é sua narrativa mais seca, precisa e emocionante – e, portanto, sua fábula mais poderosa no oco deixado pela sugestão de inquietações. No romance, que se passa num cenário pós-apocalíptico, pai e filho atravessam seu devastado país do norte gélido ao esperançoso sul. Um diálogo entre os dois (que remete também ao fim de outro livro de McCarthy, Onde os Fracos não Têm Vez):

“Nós vamos ficar bem, né, pai? Sim. Vamos. E nada de mau vai nos acontecer. Isso mesmo. Porque estamos carregando o fogo. Sim, porque estamos carregando o fogo.” O que faz de um homem um homem? Quando o bicho pegar, sempre vai ser necessário um homem que carregue o fogo. Para acender o cigarro da dama, para aquecer o rango de todos – ou simplesmente para tocar fogo no circo.

Decálogo do Machão
Por Millôr Fernandes

1. Machão vai à caça, passa seis meses na floresta, quando volta a mulher telefona, ele diz: "Não".
2. Machão não come mel, come abelha.
3. Machão, na hora da morte, não confessa: vai pro inferno logo.
4. Entre um sorvete de creme e um uísque, o machão não hesita: mistura.
5. Machão não tem automóvel: faz ligação direta no primeiro que encontra.
6. Machão não se deixa levar pelo destino: segue enredo próprio.
7. Machão jamais é encurralado no apartamento pelo marido inesperado: anda sempre de pára-quedas.
8. Machão não fuma, não bebe, não joga: usa maconha.
9. Machão não casa: cumpre pena.
10. Machão, ao ir pra cama, não se descalça. Trepa de chuteira e tudo.

domingo, 8 de agosto de 2010

Os 10 Diretores de Cinema Mais Bonitos

Sempre vejo por aí "os atores mais bonitos de todos os tempos" ou "os diretores mais geniais de todos os tempos". Convenhamos, ninguém está interessado na beleza de Bergman ou de Tarantino, só do que está dentro da cabeça deles. Afinal, não são eles que aparecem no filme mesmo, não é?
Mas se uma cabeça genial já é bom, imagina combiná-la com um rosto bonito? É, amigos, Hitchcock dirigiu alguns dos melhores filmes do mundo, mas levou vários foras de Grace Kelly.
Em nome de todas as futuras (e passadas) esposas de cineastas, aqui vai uma lista dos dez mais bonitos de todos os tempos.

Número 10: Ingmar Bergman

Talvez sejam esses olhos fundos, talvez seja esse nariz pontudo, talvez seja a cabeça que estranhamente se assemelhe a um ovo, mas Ingmar Bergman merece um lugar nessa lista. Ele tem todo esse charme de sueco, de gênio incompreendido e tudo mais...tá, quem eu quero enganar, não faço ideia de como ele conseguiu levar Liv Ullmann para cama. Mas só a inteligência e as questões existencialistas dele são o suficiente para ver além da careca.

Número 9: Darren Aronofsky

Ele dirigiu Requiem for a Dream (2000) e Pi (1998), é casado com a Rachel Weisz (não que isso importe muito, aliás, pelo contrário) e é judeu! Quer combinação melhor?
Darren Aronofsky tem aquele charme de garotão e quase-gênio que acabou de saír da universidade. Quando ele usa bigode fica parecendo aqueles meninos que querem ser homens. Ele é engraçadinho, inteligente, jovem e tem ótimos filmes no currículo, tinha que entrar pra lista.

Número 8: David Lean
"Você pode ser meu Lawrence que eu sou sua Arábia". David Lean é um daqueles caras que eu acho charmosos, mas não sei por que. Ele tem um cabelo bonito, um sorriso de canto de boca meio malandro e tem estilo. Essas rugas fundas na testa de quem trabalha muito só ajudam na aparência, assim como as covinhas. Além do mais, ele dirigiu grandes produções que são lembradas até hoje.


Número 7: Charles Chaplin

Eu até tinha pensado em colocar uma foto do Chaplin como Carlitos, mas pensei que era uma oportunidade de mostrar que o Chaplin "de verdade" também era bonitão. Ele é um dos poucos homens que sabiam seduzir todas as mulheres. Para aquelas que gostavam dos cavalheiros, ele puxava a cadeira para elas sentarem. Para as que gostavam de comediantes, ele fazia a dança dos pãezinhos. Para as que gostavam de um intelectual, ele tinha conversas compelexas e pontos de vista muito à frente do seu tempo. E para aquelas que gostavam de um canalha, ele também sabia ser um como ninguém. Chaplin, com ou sem bigodinho e chapéu, era um homem lindo e diferente de qualquer outro.

Número 6: Sam Peckinpah

Diretor de westerns controversos. Acho que só essa frase já bastaria para incluí-lo na lista. Sam Peckinpah é o diretor com o nome mais legal da história, cara de marrento, boas ideias e bons filmes no currículo. Tem a típica cara do homem californiano e ao mesmo tempo parece que acabou de saír de um saloon depois de ter tomado umas e outras. Sam é macho e tem estilo. E consegue usar uma bandana sem parecer hippie nem loser.

Número 5: Jean-Luc Godard

É difícil imaginar esse homem sem seu típico óculos de sol e o cigarrinho no canto da boca. Se houvesse um dicionário com fotos, a foto de Godard estamparia o significado de "blasé". Mas é isso que o torna diferente de outros diretores: esse ar de desprezo (piadinha cinéfila) pelos outros, a covinha no queixo e o cabelo com entradas bem marcadas que fazem de Godard um homem tão bonito. Não é à toa que Anna Karina caiu em seus braços!
Podem falar o que quiserem dos seus filmes, mas que ele tem charme, classe e estilo ninguém pode negar.

Número 4: Spike Jonze

Ele já foi casado com Sofia Coppola, já pegou Drew Barrymore e aparentemente está (ou estava, espero) namorando Michelle Williams. Ninguém desconfiaria isso só olhando para o belo rosto inocente e juvenil de Spike Jonze. Ninguém desconfiaria também que ele é o diretor maluco de Being John Malkovich (1999) e Adaptation. (2002), além de vários videoclipes. Uma mente brilhante escondida embaixo de uma cabeleira morena, carinha de nerd e de olhos verdes sedutores. Ele é um dos diretores mais promissores da década e, na minha opinião, o mais bonito de hoje em dia.

Número 3: David Lynch
O cabelo com um topete grisalho anormal,  a testa com rugas fundas, os olhos pequenos afundados e, é claro, a cara de "sou um vovô que toma ácido" fazem de David Lynch o homem mais sexy atrás das câmeras. Como um típico cineasta, ele não larga seu cigarro e não muda a expressão, o que o torna ainda mais misterioso, já que não sabemos se aquele sorriso é um sorriso de amigo ou de tarado. Sua mente é perturbada e maravilhosa, e ele não fala nada com nada, mas mesmo assim faz sentido. Ao mesmo tempo que faz meditação transcedental, ele também não se importa em filmar cenas perturbadoras ou polêmicas. Viva Lynch!

Número 2: Nicholas Ray

Eu sei que já postei essa foto no blog, mas não consigo parar de achar a foto mais legal do mundo. Nick Ray pra mim é um exemplo de homem: machão, marrento, inteligente e inabalável. O cabelo grisalho, as rugas e o jeito de quem cheira a whisky o tempo todo já seriam o suficiente para deixar ele na lista, mas de bônus vem o cigarrinho, as marcas de guerra e o mais importante: o tapa-olho. Nicholas Ray se vestia bem e usava o tapa-olho como ninguém. Ele era bonitinho quando jovem, mas com o passar dos anos foi adquirindo feições mais definidas e acabadas, o que eu acho maravilhoso. Ainda por cima ele dirigiu James Dean em Rebel Without a Cause (1955) e Joan Crawford em um western cuja personagem principal é uma mulher, Johnny Guitar (1954). Como se não bastasse, ele ainda viveu uma história de amor meio "Woody Allan-esca" com sua musa Gloria Grahame, que trocou o pobre Nick Ray por seu filho!
Resumindo, se ele ainda estivesse vivo hoje, digamos que eu seria uma espécie de groupie maluca e sem dúvidas iria atrás dele. Nicholas Ray: o diretor mais sensacional, bonito e macho de todos os tempos.

Número 1: Clint Eastwood
Eu sei que pelo que eu falei do Nicholas Ray eu poderia ter acabado lá. Sim, Nicholas Ray é meu ideal de homem, diretor, sensualidade, sei lá. Mas tem um homem que supera. Um homem que é "o cara", um homem que é o gatilho mais rápido do oeste, um homem que tem a vantagem de estar vivo hoje, ao contrário de Ray. E esse homem é Clint Eastwood.
Eu sei que é injusto, porque Clint também é ator, mas não tem como fazer qualquer lista falando de cinema e de homens bonitos sem citar o nome dele. Me apaixonei por Clint Eastwood desde o primeiro segundo que ele apareceu em cena no clássico de Sergio Leone "Il buono, il brutto, il cattivo." (1966). Ele lá com sua cigarrilha que ele fica jogando de um lado pro outro da boca como se fosse chiclete, os olhos apertados para "enxergar melhor" que deixam rugas aparentes, o chapéu de cowboy e, é claro, o poncho. Ele é o único homem na face da Terra que consegue usar um poncho mexicano e ainda ficar muito machão e bonito.
Fora suas atuações como alguns dos cowboys mais memoráveis do cinema, ele dirigiu ótimos filmes e mostrou que também é um ser intelectual e entendido. E é por isso que ele merece o topo do topo!

Menções honrosas:

Melhor bigode e Steve Buscemi look-a-like: John Waters

Tal pai, tal filho: Robert Downey Sr.

Melhores tapa-olhos (junto com Nicholas Ray): Fritz Lang, Raoul Walsh, André de Toth e John Ford

Cabelo mais estiloso: Jim Jarmusch
Melhor cara de profeta: John Huston

Melhor cara de pinguim: Martin Scorsese

Melhor polonês: Andrzej Wajda

Melhores gregos: Costa-Gavras e John Cassavetes

Melhor texano esquisito: Wes Anderson

Melhor nerd: George Lucas

Melhor gênio-faz-tudo: Orson Welles

Melhor francês fofinho: François Truffaut

Melhor alemão que faz filmes americanos: Mike Nichols

Melhor brasileiro: Walter Salles

domingo, 1 de agosto de 2010

Cenas Monótonas da Vida de Eva Bernstein


Cena I - A arte se sorrir para não ser inconveniente

Eva acorda às 5:46 da manhã pensando que já está atrasada. Se troca apressadamente, desliga o alarme e, quando vai preparar um café, repara no relógio do microondas e vê que ainda não é hora de acordar. Ela volta a dormir e só vai acordar novamente às 6:47, dessa vez ela está atrasada.
Durante o percurso de sua casa até a escola, Eva, acompanhada pelo pai, escuta alguma composição de Chopin enquanto tenta se manter acordada. Ao saír do carro, tropeça em uma falha na calçada, o que faz com que todos os seus livros caiam da sua mão diretamente em uma poça d'água.
Ela se senta na última fileira na terceira carteira do fundo e começa a anotar a aula de matemática. "Pi", "circunferência", "raio" e "área" são as únicas mediocridades que ela consegue escrever no seu caderno que não tem mais de duas páginas preenchidas, apesar dela já estar usando ele há sete meses.
No recreio, Eva passa doze minutos na fila da cantina e compra um pão de mel que está com gosto amargo. Senta-se para conversar com suas colegas, que não têm nada de mais profundo para falar que não de meninos, maquiagens, baladas ou quem foi que bebeu até vomitar no último fim-de-semana. Quando perguntam sobre sua vida amorosa, Eva simplesmente sorri e diz "Não gosto de ninguém."

Cena II - A arte de varrer para debaixo do tapete

A aula termina e a menina calcula que tem vinte minutos antes do seu pai chegar e decide sentar em um canto e acender um cigarro. Quando seu pai chega, oito minutos depois do esperado, estranha o cheiro de cigarro que as roupas de Eva exalam. Ele pergunta se está tudo bem e ela reponde com um gemido. Odeia que perguntem se está tudo bem. Obviamente não está tudo bem. Ele não entra na discussão.
O pai a leva para almoçar em um restaurante italiano. Sem muita fome, ela pede um prato de macarrão comum. Conversam sobre faculdade e Eva tem que ouvir novamente uma bronca sobre o quão importante é fazer uma faculdade e o porque ela não pode ficar viajando por aí. Pedem a conta e pagam o estacionamento.
Escutam Wagner até chegar na casa da mãe dela. Eva abre a porta de casa e chama o nome da mãe, mas ninguém responde. Vai até seu quarto, abre seus cadernos e checa as lições de casa. Um ato inútil, já que ela nem sequer se lembra da última vez em que fez lição de casa. Procura um filme nas prateleiras de casa e pega um DVD pirata do filme "Morangos Silvestres". Quase na metade do filme, sua mãe chega em casa com um homem desconhecido e reclamando que a filha está "vendo de novo essa porcaria sem sentido." A menina ignora os comentários da mãe, que leva seu convidado para a sala de jantar.
Ao fim do filme, liga o computador e checa seus recados no Orkut. 23 recados novos, mas ela não responde, apesar de já estarem acumulados há mais de duas semanas. Eva liga o chuveiro e toma um longo banho. Veste uma roupa sóbria e lê "O Estrangeiro" até sua mãe avisar que está na hora de ir para a sinagoga.

Cena III - A arte de rezar para livrar a consciência da culpa

Eva e sua mãe sentam em uma das últimas fileiras da sinagoga e, durante duas horas, ouvem o rabino cantar palavras em hebraico que não fazem sentido algum para nenhuma das duas. Durante essas tortuosas duas horas, a mente da jovem vaga por pensamentos sobre família, casamento, morte, filhos, sexo, culpa, inocência, e assim por diante. Ela não vê o mínimo sentido em frequentar aquele lugar, seguir aquela religião, conviver com aquelas pessoas. Quando era mais nova, teve a rebeldia abafada pelos pais, que viam os sentimentos de raiva e desprezo da menina como algo "normal para a idade". Já havia desistido de lutar contra sua situação infeliz, de tentar estabelecer qualquer relação com os pais e de ser ouvida. Eva era uma conformista aos quinze anos.


Cena IV - A arte de mentir para si mesmo
Não haviam se passado treze minutos desde a volta para casa quando a mãe de Eva saiu de casa rindo com o homem misterioso, que havia acabado com as cervejas e o presunto da casa enquanto elas estavam fora.
Sozinha em casa, ela busca em sua bolsa aquele cigarrinho de maconha que estava pela metade. Abre sua janela, e fuma até seus dedos começarem a queimar levemente.
Eva deita na sua cama ouvindo repetidamente a música tema de "A Lista de Schindler". Levanta-se, pega uma tesoura um tanto enferrujada no seu estojo e dirige-se ao banheiro.
Ela encara sua própria imagem no espelho durante vários minutos. Pega uma mecha do cabelo e corta. Pega outra mecha e corta. Os azuleijos do chão vão sumindo aos poucos, cobertos pelo cabelo moreno que cai sobre eles.
"Vai ficar tudo bem, vai ficar tudo bem."