quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Last Tango in Berlin

Há muito tempo ficava fuxicando jornais alheios, sites e Facebook para saber quando a diva, musa, deusa 'Deutsche' Ute Lemper vinha cantar em São Paulo. Os dias passam...só para eu descobrir que ela não viria cantar aqui, e sim no Rio!
Bom, lá vou eu com cara de cão-sem-dono falar para minha mãe que ela não vinha mais.
"Mãe, a Ute Lemper não vem mais...vai só pro Rio dia 28."
"Quer ir mesmo assim? A gente vai e volta no dia segunte."
Santa mãe que concordou no bate-volta carioca para ver a alemã.

Ontem parti de São Paulo com uma animação que não podia conter e cheguei no Rio de Janeiro. Nos trocamos e partimos para o Canecão, onde ela se apresentaria às 8h30. Sentamos na plateia VIP, na primeira mesa, a mais perto do palco.

O show começa e entra o pianista, que toca um piano Steinway de calda e um bandoneonista. Logo chega aquela deusa loira, com um vestido preto brilhante e lábios pintados. Logo de cara, já ouço três músicas que adoro: "Ich bin von Kopf bis Fuß auf Liebe eingestell", do filme Der Blaue Engel (1930), seguida de "Lili Marlene" e "L'Accordéoniste".

 

Então, Ute começou a contar sobre Berlim dos anos 30, com comentários como "If you're free tonight, gentleman...dressing room number 2". Contou sobre Jenny, Johnny e, é claro, Mackie. Contou sobre os artistas de Berlim, como Bertolt Brecht, Kurt Weill e Lotte Lenya. Contou sobre a "Ópera dos Três Vinténs" e "Ascenção e Queda da Cidade de Mahagonny". Ela interpretou "Bilbao-Song" entre outras músicas em alemão.



Pegou um boá vermelho de plumas e cantou "Happy birthday, Mr. President". Falou que o boá pertencera a Marilyn Monroe e que foi passando para várias mulheres, como Édith Piaf. Foi encontrado no mercado negro da Inglaterra e dado à Margareth Thatcher, que mostrou para seu amante que falou "vou dar para minha protegée alemã". O boá foi entregue à Angela Merkel, que dando "um jeitinho" se tornou chanceler alemã e presenteou Condoleezza Rice com o boá, que queria enforcar todo mundo, mas Angela disse "Oh darling, don't take it too seriously." E o boá passou de mão em mão, para Jackie O, Evita Perón, Hillary Clinton, as mulheres Obama até chegar aqui no Brasil, onde ele seria dado à nossa futura presidente. (nesse momento ela deu uma risadinha irônica). "But...it originally belonged to...LOLA!". Foi aí que me arrepiei e quando ela começou com "Ich bin die fesche Lola".


Passou para a época da guerra, de quando Kurt teve que fugir e levar sua cultura consigo. Foi nessa hora que ela deu um show cantando em Yiddish:



Mudamos de cenário: agora o nazismo e o antisemitismo foram trocados pelo acordeon e os croissants. Mas Kurt Weill tinha perdido sua identidade, ele era outro homem e sonhava com um lugar em que tudo poderia dar certo. Ele chamou esse lugar de Youkali.



A França já não era mais um lugar seguro e Kurt e Lotte foram para Buenos Aires. Lá, encontraram o som do tango e Jenny virou Maria de Buenos Aires.




No fim da guerra, todos voltam para a Europa, mas antes de chegar na Alemanha, eles param na Holanda, onde conhecem a música de Jacques Brel (e Ute faz uma improvisação à la Ella Fitzgerald com "Summertime").



Ao chegarem na Alemanha, se deparam com uma Berlim dividida por um muro. E é dessa época de Guerra Fria que Ute mais se lembra. Uma época horrível para as roupas, que ainda estão guardadas nas malas antigas.
Ute sobe no piano, assim como Michelle Pfeiffer em The Fabulous Baker Boys (1989) e canta "Ich hab noch einen Koffer in Berlin".



Finaliza o show com "Die Moritat von Mackie Messer", misturando com "Cabaret", "Alabama Song" e "All That Jazz", para voltar com "Mack the Knife" ao som dos assobios da plateia.

Eu logo fui aplaudir em pé, assim como todos que estavam extasiados com a beleza e a interpretação dessa mulher. Não passou muito tempo até ela voltar para o bis. "PIRATE JENNY!", eu gritei pra ela cantar. Mas ela escolheu "Ne Me Quitte Pas", e cantou maravilhosamente. Foi tão emocionante que até ela chorou no final.



Eu sou a de vestido branco.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

The sound of music


Será que devo guardar os discos de jazz nas prateleiras até eu estar pronta para vivê-los? Será que devo trocar o contra-baixo pelo baixo elétrico? E as melodias valsantes pelas cantantes?
Quando vou poder ouvir meus discos de jazz novamente?