quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Where the neon lights are bright

 Quem me conhece sabe que eu detesto filmes românticos ou "fofinhos". Não tenho nem saco para desenhos animados direcionados ao público infantil, mas que agradam muitos adultos. Eu simplesmente não consigo assistir uma comédia romântica sem ter vontade de vomitar.
Mas eu não gosto só de "filme de menino", não assisto só faroestes e policiais. Uma hora ou outra meu lado feminino vem à tona. E meu ponto fraco é musicais. Especialmente os clássicos da Broadway.
Eu não sei cantar, não danço há uns bons três anos e não sou atriz, apesar dos anos de teatro. Mas desde pequena, como contei naquele post sobre "The Wizard of Oz" (1939), musicais sempre me atraíram.
Aqui tem um restaurante chamado Brooklyn, em que você é servido por garçons que a cada vinte minutos, mais ou menos, para de servir as mesas e cantam músicas de show famosos da Broadway. Desde a primeira vez que fui lá, fiquei encantada e hoje em dia é uma das minhas tradições de aniversário jantar no Brooklyn.
Acho que tudo começou quando eu fazia balé clássico na época que eu mal sabia andar direito. Todos os anos tínhamos apresentações e eventualmente essas apresentações foram se tornando grandes produções com grandes histórias para depois se tornarem musicais em que todos dançavam (mas só quem gostava cantava).
Os filmes também foram grande influência na minha vida, lógico. Meu pai e sua devoção a "The Sound of Music" (1965) me fez por muitos anos querer ter seis irmãos para poder cantar com eles e completar 16 para poder cantar "I am 16 going on 17" (o que, por sinal, eu fiz várias vezes). Meu sonho era ter uma babá como Mary Poppins; Aos 11 ou 12 anos passei por uma fase de obsessão com "The Phantom of the Opera" (2004). Até aí eu só conhecia os mais clássicos e famosos, como "Mamma Mia!" (que não tinha filme na época), "Lion King", "Grease" (1978), que era um dos poucos VHS que a família inteira podia assistir junta, entre outros.
Quando assisti "Moulin Rouge!" (2001) pela primeira vez fiquei em estado de choque. As cores, a mesca de músicas populares, os figurinos e a história...foi uma overdose de informações pra mim e por muito tempo esse foi meu filme favorito.
Um dos grandes momentos foi quando eu assisti a montagem brasileira de "My Fair Lady". Achei tão inteligente, engraçado e romântico, mas não de uma forma apelativa. E é claro que o filme com a Audrey Hepburn também não me decepcionou. Eliza Doolittle é apaixonante!
E assim fui conhecendo os mais antigos: "West Side Story" (1961), "Seven Brides for Seven Brothers" (1954), "Singin' in the Rain" (1952), etc. Me apaixonei por Gene Kelly em "An American in Paris" (1951) e por Fred Astaire em "Top Hat" (1935). Me encantei novamente por Judy Garland em "Meet Me in St. Louis" (1944).
Mas falando em Judy Garland, um grande momento que guardo com todo carinho foi quando eu assisti "Wicked" na Broadway. Pra quem não conhece, "Wicked" é uma história pré-"Wizard of Oz". Não quero entrar em muitos detalhes nem fazer uma crítica, mas é sobre a Bruxa Má do Oeste, que na história é apenas uma adolescente muito inteligente chamada Elphaba que infelizmente nasceu verde; e sobre a fada Glinda, que em sua adolescência se chamava Galinda e era uma patricinha obcecada com popularidade. Elphaba tem uma irmã paraplégica, Nessarose, que é a queridinha dos pais, e é mandada para a escola com a incumbência de cuidar da irmã. Na escola, Galinda e Elphaba são colocadas no mesmo quarto e, aos poucos, o ódio inicial que uma sente da outra vai se tornando amizade e as duas vão atrás do grande Mágico juntas. Eu adorei esse show e saí de lá com gostinho de "quero mais".
Porém, minha visão de musicais e até meu gosto pessoal para tudo mudou depois que tive o primeiro vislumbre de Bob Fosse. A começar por "Chicago" (2002), um filme que me fascina até hoje. Não dá para não se apaixonar por todo aquele jazz, as flappers, a imoralidade, os anos 20...admito que o filme em si não é lá aquelas coisas e não consegue ser tão bom quanto o show, mas os números musicais são sensacionais (penso o mesmo de "Nine" (2009) ). Mas Fosse só foi entrar na minha vida mesmo quando assisti "Cabaret" (1972). Não vou contar muito da minha experiência com esse filme aqui, porque ela merece um post só pra ela, mas posso dizer que minha vida até agora pode muito bem se resumir em "antes de Cabaret" e "depois de Cabaret".
Fosse é um daqueles caras que são gênios perturbados. E os filmes dele são impecavelmente maravilhosos. Ele, assim como Vincente Minnelli já havia descoberto nos anos 40, sabia que um musical não devia ser só história-número musical-história-número musical. As coisas têm que ter conexão entre si e até mesmo as letras das músicas têm que ter a ver com o conteúdo do filme/espetáculo. E mais ainda: Fosse sabia tirar vantagem do fato de ter uma câmera em mãos, ao invés de ser ao vivo.
Ele não só coreografava suas bailarinas como também coreografava a câmera (repare no segundo número de "Cabaret", quando Liza canta "Mein Herr"). Esse perfeccionismo e genialidade são retratados muito bem em seu filme semi-autobiográfico, "All That Jazz" (1979), em que a vida de excessos do diretor levam ele à decadência. Se há um filme que pode ser considerado a maior obra musical de todos os tempos, eu diria que é esse. "All That Jazz" está em outro patamar e, por ser um musical, consegue chegar a níveis emocionais e artísticos que quase nenhum outro filme consegue.
Para terminar, faço uma menção honrosa a "Die 3 Groschen-Oper" (1931), uma das minhas peças favoritas de dois caras que pretendo escrever sobre algum dia desses, Kurt Weill e Bertolt Brecht; e, é claro, a "The Rocky Horror Picture Show" (1975), um dos musicais mais legais e malucos que já assisti em toda minha vida. Deixo aqui minha música preferida do filme, "Sweet Transvestite":