sábado, 29 de dezembro de 2012

Resoluções de ano novo


E lá estávamos, todos sentados nas cadeiras brancas de plástico. As meninas com vestidos chiques, os meninos bem arrumados (na medida do possível). Os professores vestindo as suas personalidades. Pais orgulhosos segurando câmeras e filmadoras. Eu usava preto em protesto à demissão do meu professor de filosofia. Não me lembro quem sentava do meu lado, acho que não eram meus amigos.  Alguns discursos bestas, apresentações de crianças tocando violinos desafinadamente (Por quê!?), um fracassado fazendo stand-up com piadas que a maioria dos pais mandou por e-mail. Piadas sobre ir na balada, Porto Seguro, fazer festas em casa, ir mal na escola e coisas do tipo. Nada que eu pudesse relacionar com a minha vida. Minha mãe mandou piadas também, mas eram tão unicamente minhas que não foram escolhidas. Quase ninguém daquele terceiro colegial levava bronca por voltar para casa às 7 horas da manhã depois de uma noitada na rua Augusta. Ou por não querer saír de casa e ficar vendo filmes o dia inteiro. Ou por nunca trazer amigos em casa.
Depois do sofrimento de ouvir esse suposto comediante falar um monte de merda por meia hora, os professores cantaram algumas músicas para nós. Foi divertido. Depois vários discursos de alunos, pais, etc. Não lembro o que eram, não deveriam ser relevantes. Finalmente, a entrega dos diplomas. O meu demorou um pouco para chegar, quem me entregou foi a professora de inglês. Estava num embrulho azul com outras coisas dentro, como uma camiseta com o nome de todos da série e um livro da Lygia Bojunga Nunes. Abri o tubo para encontrar dentro um pedaço de papel escrito algo nas linhas de "Um cerificado de amizade para a vida toda". Grande droga. Olhei em volta e vi as pessoas que tinham sido meus colegas por três anos. Alguns haviam passado de ano "direto", outros pegado recuperação, o menino que bombou estava ausente. Alguns já tinham se matriculado na faculdade, outros no cursinho, a maioria ainda aguardava a lista da Fuvest. Alguns namoravam, outros não tinham nem tido seu primeiro beijo. Alguns tinham até emprego garantido, outros não tinham a menor ideia do que queriam fazer da vida e por isso tinham prestado ciências sociais. E eu, com meu vestido preto, não tinha a menor ideia do que iria me acontecer. Se eu soubesse naquele dia o que o ano seguinte me aguardava, acho que eu estaria muito mais feliz e tentaria não odiar todo mundo. Mas naquele momento a única coisa que eu pensava era que dali há alguns dias eu iria para a praia comemorar o ano novo com alguns amigos e precisava fazer minhas malas.

"Todd in the Wilderness" - monólogo


Durante meu tempo fora, escrevi uma peça de um ato chamada "Todd in the Wilderness". Por razões pessoais, prefiro não postá-la na integridade, porém aqui está um monólogo da personagem Nastazja, uma imigrante polonesa de 40 anos falando com Todd, o "filho"/cão/escravo sexual dela.

"Oh my poor baby...I am getting old, you know? And your father isn't getting any younger. He spends the days in that damn university, while I hide from the world in this fucking house. I can only go out once or twice a year. Otherwise I stay here, drinking my fucking vodka and smoking my fucking cigarettes...You are full of vitality and life. So many years ahead of you. It makes me jealous.

It makes me so jealous I want to spoil you! Especially because your father gives you all his attention. He spends all of his free time with you. I, on the other hand, have to wait until fall break to go out with him. I've become boring to his eyes. I'm old.

He loves you so much. He doesn't love me. I want someone to love me. To take care of me. To desire me, to possess me, to fuck me like I'm goddamn Mata Hari...That's all I want. It's not asking for much, is it?"

sábado, 22 de dezembro de 2012

Procurando bons monólogos


Sinto que o intuito desse blog vai mudar muito agora que minha orientação vocacional parece ter mudado bastante. Ando procurando bons monólogos. Em inglês. É difícil. Eu detesto monólogos melodramáticos e os que eu acho bons, ou estão na lista de "overused" ou algum clipe no YouTube estraga eles pra mim. Shakespeare então nem se fala...é um porre. Então, para acalmar minha mente decidi fazer uma colagem de partes de peças que eu gosto e fazer uma "colcha de retalhos". Meu monólogo perfeito.

Fuck you. Fuck you. Fuck you for rejecting me by never being there, fuck you for making me feel shit about myself, fuck you for bleeding the fucking love and life out of me, fuck my father for fucking up my life for good and fuck my mother for not leaving him, but most of all, fuck you God for making me love a person who does not exist, FUCK YOU FUCK YOU FUCK YOU. People were always giving me shit. Ya know what? Once I was in a play. I was real glad I was in a play, cause I thought they were just for pretty people, and I had my dumb eye patch and those metal plate shoes to correct my duck foot. It was The Ugly Duckling, and I really dug that cause of the happy ending and shit. But you know what they did, Slim? At the end of the play I had to kneel on the stage and cover my head with a black shawl and this real pretty blonde-haired girl dressed in a white ballet dress rose up behind me as the swan. It was really shitty, man. I never got to be the fucking swan. Boy, I ran to my hideout and cried and cried. I cry allll the time; but deep inside, so nobody can see me. I cry all the time. And Georgie cries all the time, too. We both cry all the time, and then, what we do, we cry, and we take our tears, and we put 'em in the ice box, in the goddamn ice trays... until they're all frozen (Laughs) and then... we put them... in our... drinks. Why can’t you lose your good looks Brick? Most drinking men lose theirs. Why can’t you. I think you’ve even gotten better looking since you weren’t on the bottle. You were such a wonderful love. … You were so exciting to be in love with. Mostly I guess because you were … If I thought you’d never never made love to me again, why I’d find me the longest sharpest knife I could and I’d stick it straight into my heart. I’d do that. I need a man who will hold me and comfort me and then rub me, and lick me, and finger me and fuck me to as many orgasms as each of us can have. I need to be taken to a state of complete exhaustion. I'm not saying this is for everyone. I'm just saying this is how I am. And when they showed me this abhorred pit, They told me, here, at dead time of the night, A thousand fiends, a thousand hissing snakes, Ten thousand swelling toads, as many urchins, Would make such fearful and confused cries As any mortal body hearing it Should straight fall mad, or else die suddenly. I like being animals. You know why? I never heard of a famous animal. Oh, a couple of Lassies—an occasional Trigger—but, by and large, animals weren't meant to be famous. People who are lonely, people left alone, sit talking nonsense to the air, imagining... Whoever you are, I have always depended on the kindness of strangers. 

Extraído de:
"4.48 Psychosis" - Sarah Kane
"Cowboy Mouth" - Sam Shepard
"Who's Afraid of Virginia Woolf?" - Edward Albee
"Cat on a Hot Tin Roof" - Tennessee Williams
"True Love" - Charles L. Mee
"Titus Andronicus" - William Shakespeare
"The House of Blue Leaves" - John Guare
"Angels in America" - Tony Kushner
"A Streetcar Named Desire" - Tennessee Williams


quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

George and Martha, sad, sad, sad...


"There is only one man in my life who has ever... made me happy. Do you know that? One!

I meant George, of course. Uh... George; my husband.

...George who is out somewhere in the dark... George who is good to me, and whom I revile; who understands me, and whom I push off; who can make me laugh, and I choke it back in my throat; who can hold me, at night, so that it's warm, and whom I will bite so there's blood; who keeps learning the games we play as quickly as I can change the rules; who can make me happy and I do not wish to be happy, and yes I do wish to be happy. George and Martha: sad, sad, sad.

...whom I will not forgive for having come to rest; for having seen me and having said: yes, this will do; who has made the hideous, the hurting, the insulting mistake of loving me and must be punished for it. George and Martha: sad, sad, sad.

...who tolerates, which is intolerable; who is kind, which is cruel; who understands, which is beyond comprehension...

Some day... hah! some night... some stupid, liquor-ridden night... I will go too far... and I'll either break the man's back... or push him off for good... which is what I deserve."

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

As peças que vi durante meu tempo em Connecticut


Já que não sei sobre o que escrever (pela enorme quantidade de experiências significativas), vou postar as peças que vi durante meu tempo em Connecticut, com a estendida em Nova York.

1. "The Tempest" - Royal Shakespeare Company  (Stratford-Upon-Avon)
2. "The Comedy of Errors" - Royal Shakespeare Company  (Stratford-Upon-Avon)
3. "Sweeney Todd" - com Michael Ball e Imelda Staunton (Adelphi Theater, Londres)
4. "War Horse" (New London Theater, Londres)
5. "Love and Information" - de Caryl Churchill (The Royal Court Theater Downstairs, Londres)
6. "Scenes from an Execution" - com Fiona Shaw, de Howard Baker (National Theater, Londres)
7. "Richard III" - com Mark Rylance (Globe Theater, Londres)
8. "Some Like it Hip Hop" - ZooNation Dance Company (Peacock Theater, Londres)
9. "Wild With Happy" - com Colman Domingo (Public Theater, Nova York)
10. "Who's Afraid of Virginia Woolf?" - com Steppenwolf Theater Company, de Edward Albee (Booth Theater, Nova York)
11. "Marie Antoinette" - dirigido por Rebecca B. Taichman (Yale Rep, New Haven)
12. "The Trojan Women" - SITI Company, dirigido por Anne Bogart (Connecticut College, New London)
13. "Peter and the Starcatcher" (Brooks Atkinson Theater, Nova York)
14. "Chicago" (Ambassador Theater, Nova York)
15. "Cat on a Hot Tin Roof" - com Scarlett Johansson (Richard Rodgers Theater, Nova York)
16. "Vanya and Sonia and Masha and Spike" - com Sigourney Weaver, de Christopher Durang (Lincoln Center Theater, Nova York)

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Amar é renunciar à força


Sabina continuava com suas reflexões melancólicas. E se ela tivesse um homem que lhe desse ordens? Que a dominasse? Quanto tempo ela o suportaria? Nem cinco minutos! Donde conluiu que nenhum homem lhe convinha. Nem forte, nem fraco.
Disse: "E por que você não usa sua força contra mim de vez em quando?".
"Porque amar é renunciar à força", respondeu Fraz docemente.
Sabina compreendeu suas coisas: em primeiro lugar, que essa frase ela bela e verdadeira. Em segundo lugar, que, com essa frase, Franz acabara de se excluir de sua vida erótica.

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Um último pensamento pré-viagem


Afundada em páginas de Grotowski, Shakespeare, Chekhov, Eurípides e muitos outros, só consigo sentir o medo, a ansiedade e a tristeza de deixar tudo o que me é familiar para trás.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

The Movie


The movie will begin in five moments
The mindless voice announced
All those unseated will await the next show.

We filed slowly, languidly into the hall
The auditorium was vast and silent
As we seated and were darkened, the voice continued.

The program for this evening is not new
You've seen this entertainment through and through
You've seen your birth your life and death
you might recall all of the rest
Did you have a good world when you died?
Enough to base a movie on?

I'm getting out of here
Where are you going?
To the other side of morning
Please don't chase the clouds, pagodas

Her cunt gripped him like a warm, friendly hand.

It's alright, all your friends are here
When can I meet them?
After you've eaten
I'm not hungry
Oh, we meant beaten

Silver stream, silvery scream
Oooooh, impossible concentration

Por Jim Morrison

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Coisinha


Uma coisinha selvagem de penas na cabeça, se esconde em veludo e noite quando os santos a acham com pressa, curiosos os santos lhe pedem o mesmo toque que a Coisinha carrega “queremos mantos como esse!", a Coisinha concorda e corre, primeiro porque encontra muitos panos e cores e vozes, depois porque todas as vozes, cores e panos em todo seu número gritam por ela, e ela corre e caça por ondas pra matar sua fome.


Texto por Yan Trovato inspirado em um sonho meu.

Eu, Selenita


Faz dias e meses que olho esse blog em busca de alguma inspiração para escrever. Não tenho. Não porque não andam acontecendo coisas interessantes na minha vida (o leitor atento perceberá que até grifei algumas das 100 coisas para fazer antes de morrer), mas porque eu mudei.

Hoje em dia não mudo mais meu cabelo a cada seis meses. Cortei todo loiro fora e estou deixando crescer naturalmente há mais de um ano. Não vejo mais tantos filmes quanto antes, aliás mudei minha vocação do cinema para o teatro (pelo menos temporariamente). Estou me aventurando muito mais fora de casa do que na frente do computador. Hoje em dia, eu faço mais do que falo (apesar de ainda falar muito....)

Durante todos esses meses eu conheci gente nova, chutei pra fora da minha vida alguns velhos, mudei de casa, aprendi alemão, me embebedei, entrei na maioridade (os dois nessa ordem), me apaixonei, tive paixões platônicas por inúmeros professores e atores e diretores, entreolhei através das portas da percepção, me decepcionei e cresci.

Eu me formei no colegial. E não passei na faculdade. E não fiz cursinho. E não sabia o que queria fazer da vida (na verdade, eu não queria nada). Comecei um curso técnico de formação de atores, que tranquei para ir daqui há uma semana estudar teatro em Connecticut.

Viajei pela Europa, conheci os canais (cof cof) de Amsterdam, o campo de concentração polonês, o Danúbio de Budapeste, as praias nudistas de Dubrovnik e mais tantas coisas que só a memória guarda.

Acho que esses breves parágrafos podem ser uma boa introdução para o que vem pela frente, minha nova vida semi-adulta. Todas as mudanças que citei acima aconteceram muito rapidamente e em poucos meses me tornei alguém que seria irreconhecível para aqueles que deixaram de me conhecer há dois anos atrás. Apesar do rosto de menina, a cabeça tem a pretensão de achar que envelheceu demais. A verdade é que eu esperava tanto pelo momento da minha idealizada "liberdade", que quando ela chegou mal aguentei todos os fardos que vinham com ela, inclusive aquele de virar mulher.

Não me considero uma pessoa romântica, feminina, tampouco insegura. Para mim, essas eram qualidades tolas e fúteis, qualidades de mulheres estereotipadas. O que ninguém me contou é que eventualmente eu teria um pouco delas em mim, especialmente quando se tratasse do amor (odeio usar essa palavra, mas espero que o leitor a leia o mais "cientificamente" possível). Foi um estranhamento muito grande para mim, e ainda é, perceber que eu não sou vista mais pelos homens como somente a "menininha engraçadinha que gosta de cinema" e ser flertada e conquistada.

Além do mais, com os 18 anos vem o clichezão da responsabilidade. De ter que escolher uma profissão. De massacrar todos os seus sonhos de infância e guardá-los cuidadosamente numa caixinha para ser aberta apenas por seus filhos. Eu tinha e ainda tenho muitos sonhos, entre eles ser detetive particular, atriz, diretora e, é claro, Indiana Jones. Talvez por ter tomado conhecimento cedo que meu pai não era feliz com a profissão escolhida e que minha avó, pianista, era muito satisfeita com o que ela fazia, eu nunca me permiti considerar mínimamente qualquer profissão que envolva escritório. Ou cálculos matemáticos ou qualquer ciência que a escola tenta entulhar na sua cabeça para você escrever no Vestibular e depois esquecer.

Passei muito tempo indecisa sobre o que fazer. Sim, eu adorava cinema, mas e o prazer e o friozinho na barriga das peças de teatro que eu fiz por anos? E além disso, como eu iria me sustentar de qualquer um dos dois? Não, o melhor é ser engenheira, como disse meu pai, o mercado está precisando de engenheiros qualificados. Eu não quero ser nada então.

Não quero ser nada, mas eu quero me expressar! Quero botar pra fora as coisas que eu penso, quero sentir tesão pelo meu trabalho e eu quero FAZER alguma coisa! É, é do teatro que eu tava precisando. E é do teatro que eu vou viver, se tudo der certo.

Querido leitor, talvez eu tenha falado um bando de lorotas, afinal. Fiz você perder três minutos da sua vida tentando te convencer que eu mudei. Talvez eu ainda seja um crianção que acha que cresceu e sabe fazer escolhas e ainda sonha em morar na Lua.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Fear of Leopards


 
     Howard Hawks had a unique taste in women. He admired women that could be on the same level as men, that could be "one of the boys", that could swear and smoke without losing their femininity. In all of his movies, is that delicious battle of the sexes between a "macho" and a strong, independent female that keeps the audience on their toes. From "Only Angels Have Wings" (1939) to "The Big Sleep" (1946), there are lots of examples of that ongoing man vs. woman struggle.
    One movie that falls out of the category, however, is "Bringing Up Baby" (1938). In the movie, Cary Grant plays paleontologist David Huxley who needs to convince a rich lady to donate a million dollars to his museum. During a golf game with the woman's lawyer, he accidentally runs into the aloof Susan Vance (Katharine Hepburn), marking the start of the hysterically absurd situations in the film, which reminds the spectator of Shakespeare's "Midsummer Night's Dream".
     Although David makes it pretty clear at the beginning that he doesn't want "any woman interfering in my affairs! It's fatal!”, the non-stoppable Susan chases him until he's convinced to come to her house, thinking Susan is being attacked by a leopard sent by her brother. David rushes to her apartment only to find himself trapped in one of her charming feminine tricks. He then has to accompany Susan to deliver the leopard at her aunt's house in Connecticut.
     During the trip, Baby (the leopard) eats the car seats, gooses and pounds of raw steak. He's "gentle as a kitten" and loves hearing the song "I Can't Give You Anything But Love". He is sort of a wild child. Much like Susan, who sees no bound and does everything to get what she wants, even if it takes being "animalistic". There are a few hidden references to the connection between Susan and the leopard, like the polka dot dresses she wears throughout the picture. At one point, Susan says "Don't be silly, David, you can't make a leopard stand still.", which can be referred either to her nature or to the real leopard that's gone missing.
      The aspect that differs this movie from others directed by Howard Hawks is that the woman is the one in control in this picture. The man just follows her around and spends the whole movie, literally, looking for "his bone" (the last missing piece of his brontosaurus skeleton), just like a dog. The constant fear that David has of Baby eating the family dog George can be compared to his fear of Susan taking over his "pants".
      Meanwhile, an untamed circus leopard is being taken to execution. The characters mistake it from Baby and let it escape. Now there are two leopards and one dog on the loose! Close to the movie's ending, Susan's persistence leads her to capturing the wild leopard, unaware of its aggressiveness. David, who now knows about the confusion, shows his "hero" and manly side for the first time and saves Susan by shooing the animal into a jail cell. From that we can infer that while Baby represents the free, exotic Susan and George represents the methodical David, the untamed leopard can also be a metaphor for David's closeted savage side.
     Curiously enough, in the letter sent by Susan's brother it is written that Baby "likes dogs". Susan adds: "I don't know whether he eats dogs or is fond of them". But in the end, the "leopard" was just fond of the "dog", and, like critic Pauline Kael wrote: "No paleontologist ever got hold of a more beautiful set of bones".

(esse é um texto que fiz para uma application de uma faculdade. Não fui aceita, mas o texto ficou.)

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Noir

 
       Checo o endereço duas vezes, "Rua Lincoln, número 13". Sim, é lá mesmo. Abro a enorme porta de vidro fosco e entro na casa fumacenta e escura. Dou uma levantada discreta no vestido e olho em volta para ver se há alguma cara conhecida. Ainda bem que não encontro nenhuma. Me dirijo ao bar. A banda está tocando versões sem graça de músicas de Gershwin e Glenn Miller.
       "Dry Martini. Mexido, não batido."
       Enquanto espero meu drink, decido acender um cigarro. Tiro a piteira da bolsa e coloco-a na boca, quando sou surpreendida por uma mão me oferecendo um isqueiro aceso. O homem por trás do isqueiro é baixinho e pouco atraente. Parece ter confiança demais para alguém com uma aparência tão sem graça.
       "Allow me, darling." − acendo meu cigarro e o garçom coloca meu drink no balcão − "Bill, esse drink e tudo o que a moça beber hoje a noite é por minha conta."
       "Não se preocupe, consigo viver sem gentilezas de homens que não conheço."
       "Não seja por isso. Francis Sinatra. Mas pode me chamar de Frank, baby."
       "Prazer, Lola."
       "Lola, o que um broto como você está fazendo sozinha em um lugar com uma clientela mal-intencionada como esse?"
       "Quem disse que eu sou bem-intencionada?"
       Frank estava prestes a dar uma respostinha inteligente quando foi interrompido por dois homens bêbados que entraram no bar fazendo um escarcéu.
       "Dean! Sammy! Venham cá, seus cães!"
       "Garota nova, Frankie?"
       "Essa é Lola. Conheci-a hoje e ela diz que não tem boas intenções nesse lugar." − Os homens começaram a rir e assobiar. Revirei os olhos e tomei mais um gole do Martini − "Esses são meu bando de ratos. Esse é Dean Martin e esse é Sammy Davies Jr."
       Dou um sorrisinho amarelo e viro o resto do drink.
       "Senhores, acho que devo ir. Obrigada pela bebida, até a próxima vida."
       "Onde você pensa que vai? Você vai ficar aqui com a gente. Bill, limpa a mesa perto do palco para nós."
       Sem muita relutância obedeço Frank e vou me sentar com os homens. Pressinto que tem boa coisa vindo.
       "Bogie! Puxa uma cadeira e senta aqui."
       Olho para a porta e vejo o homem de sobretudo caqui e chapéu Fedora se aproximando. Ele tem muitas rugas na testa e olheiras profundas por causa da bebida. Suas unhas e dentes são manchados de cigarro, mas isso não o torna um homem feio, pelo contrário.
       "Hey, Frankie. Como vai, Dean? Como vai, Sammy?" − diz em uma voz rouca − "Olá, sou Humphrey Bogart, mas me chame de Bogie."
       Ele se senta silenciosamente ao meu lado como se nunca tivesse me visto antes. Os outros três o chamam para jogar sinuca e ele recusa. Ficamos parados olhando a banda sem trocar uma palavra. Como ele é bom nesse jogo!
       "Garçom, um whiskey. Três pedras de gelo. Você quer algo?"
       "Um whiskey também. Cowboy."
       Bogie me olha incrédulo, mas não diz uma palavra. Ele sabe que tramei algo e tenho certeza de que suspeita de alguma coisa, mas decido continuar jogando o jogo dele.
       Nossos whiskeys chegam e a banda dá espaço para uma mulher de cabelos escuros com um vestido de veludo azul que canta uma balada de amor brega dos anos oitenta.
       Tomo meu whiskey rapidamente e olho para o relógio. Onze horas já! Bogart percebe, mas mantém sua calma de sempre.
       "Preciso ir." − recolho rapidamente meus pertences e deixo uma gorjeta para o garçom.
       "Você não vai a lugar nenhum, baby." − diz Bogie segurando meu braço com certa força. Olho para baixo e vejo que tem uma arma apontada para mim.
       Me desvencilho dele e saio com pressa até a porta. Entro no carro e vou o mais rápido possível.
       "Scheiße." − pelo retrovisor vejo que ele está me seguindo.
       Paro no posto de gasolina e vendo que ainda está atrás de mim começo a flertar com o frentista. Bogart sai do carro e finge abastecer seu tanque.
       "Moço, onde tem banheiro por aqui?" − digo com ar inocente.
       "À direita, dona."
       Vou até o banheiro e me tranco. Ainda bem que tem uma janela! Jogo os saltos no lixo e subindo na privada consigo escapar pela janela. Saio correndo e peço carona na estrada para uma senhora idosa. Abro o espelhinho do para-sol e dou uma retocada no pó e no batom. Até que enfim posso seguir meu caminho sem perturbações.
       Chegando na casa toco a campainha. Ele abre para mim com aquela cara de acabado e bêbado que eu tanto odeio. A camisa está suja e amassada e os cabelos grisalhos cheirando a charuto.
       "Olá, querida." − diz me dando um beijo − "Como foi seu dia?"
       "Ótimo." − respondo indo em direção à sala de estar, sem muito entusiasmo − "As crianças já estão na cama?"
       "Não, estão esperando a mãe deles dar um beijo de boa noite."
       "Herbert! Quantas vezes eu tenho que dizer que não é para eles me espera...." − interrompi a frase no momento em que percebi que não estávamos sozinhos.
       "Querida, esse é Humphrey, um velho amigo meu."
       "Olá, senhor Humphrey. Prazer em conhecê-lo."
       "O prazer é meu, senhora." − ele diz com seu tom irônico tão típico, levantando as sobrancelhas.
       "Herb, coloque as crianças na cama, sim? Eu entretenho nosso convidado enquanto isso."
       Como um cachorrinho, o marido sobe as escadas, deixando nós dois a sós.
       "Agora isso é entre nós dois apenas, baby. Eu sei o que você quer, mas não vou deixar isso acontecer."
       "Você realmente acha que tem como me impedir? Você viu o que aconteceu com os que vieram antes de você."
       "Mas comigo é diferente. Você vai jogar pelas minhas regras."
       Antes de ter tempo de responder, fui interrompida pelo imbecil do meu marido que descia as escadas atrapalhado pelo álcool. Vou ajudá-lo e abraço seu pescoço.
        "Querido, está tarde, será que você podia mandar seu amigo voltar outro dia?" − digo no maior charme da manipulação feminina.
       "Claro, querida. Humphrey, lamento dizer que está tarde demais e nós queremos dormir. Vamos combinar um poker semana que vem?"
       "Eu entendo. Vamos combinar sim, Herb, até mais. Até mais....senhora." − se despede com certo desprezo.
       "Até mais, senhor Humphrey." − falo com meu sorrisinho de satisfação no canto dos lábios.        Vejo Bogie sair de casa e entrar em seu carro. Herbert me abraça e beija meu pescoço enquanto eu espio pela janela o fracassado ir embora. "Até mais, darling", penso.
       E enquanto o carro dele vira a esquina, Herbert fica com a cara vermelha, as veias do pescoço e da testa saltadas e olhar vidrado. Pego o copo dele do chão e vou até a cozinha pegar uma toalha.
         "Oh, Herbert...que pena que você não controlava sua bebida...tampouco o que sua própria mulher poderia colocar nela".