sexta-feira, 15 de junho de 2012

Fear of Leopards


 
     Howard Hawks had a unique taste in women. He admired women that could be on the same level as men, that could be "one of the boys", that could swear and smoke without losing their femininity. In all of his movies, is that delicious battle of the sexes between a "macho" and a strong, independent female that keeps the audience on their toes. From "Only Angels Have Wings" (1939) to "The Big Sleep" (1946), there are lots of examples of that ongoing man vs. woman struggle.
    One movie that falls out of the category, however, is "Bringing Up Baby" (1938). In the movie, Cary Grant plays paleontologist David Huxley who needs to convince a rich lady to donate a million dollars to his museum. During a golf game with the woman's lawyer, he accidentally runs into the aloof Susan Vance (Katharine Hepburn), marking the start of the hysterically absurd situations in the film, which reminds the spectator of Shakespeare's "Midsummer Night's Dream".
     Although David makes it pretty clear at the beginning that he doesn't want "any woman interfering in my affairs! It's fatal!”, the non-stoppable Susan chases him until he's convinced to come to her house, thinking Susan is being attacked by a leopard sent by her brother. David rushes to her apartment only to find himself trapped in one of her charming feminine tricks. He then has to accompany Susan to deliver the leopard at her aunt's house in Connecticut.
     During the trip, Baby (the leopard) eats the car seats, gooses and pounds of raw steak. He's "gentle as a kitten" and loves hearing the song "I Can't Give You Anything But Love". He is sort of a wild child. Much like Susan, who sees no bound and does everything to get what she wants, even if it takes being "animalistic". There are a few hidden references to the connection between Susan and the leopard, like the polka dot dresses she wears throughout the picture. At one point, Susan says "Don't be silly, David, you can't make a leopard stand still.", which can be referred either to her nature or to the real leopard that's gone missing.
      The aspect that differs this movie from others directed by Howard Hawks is that the woman is the one in control in this picture. The man just follows her around and spends the whole movie, literally, looking for "his bone" (the last missing piece of his brontosaurus skeleton), just like a dog. The constant fear that David has of Baby eating the family dog George can be compared to his fear of Susan taking over his "pants".
      Meanwhile, an untamed circus leopard is being taken to execution. The characters mistake it from Baby and let it escape. Now there are two leopards and one dog on the loose! Close to the movie's ending, Susan's persistence leads her to capturing the wild leopard, unaware of its aggressiveness. David, who now knows about the confusion, shows his "hero" and manly side for the first time and saves Susan by shooing the animal into a jail cell. From that we can infer that while Baby represents the free, exotic Susan and George represents the methodical David, the untamed leopard can also be a metaphor for David's closeted savage side.
     Curiously enough, in the letter sent by Susan's brother it is written that Baby "likes dogs". Susan adds: "I don't know whether he eats dogs or is fond of them". But in the end, the "leopard" was just fond of the "dog", and, like critic Pauline Kael wrote: "No paleontologist ever got hold of a more beautiful set of bones".

(esse é um texto que fiz para uma application de uma faculdade. Não fui aceita, mas o texto ficou.)

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Noir

 
       Checo o endereço duas vezes, "Rua Lincoln, número 13". Sim, é lá mesmo. Abro a enorme porta de vidro fosco e entro na casa fumacenta e escura. Dou uma levantada discreta no vestido e olho em volta para ver se há alguma cara conhecida. Ainda bem que não encontro nenhuma. Me dirijo ao bar. A banda está tocando versões sem graça de músicas de Gershwin e Glenn Miller.
       "Dry Martini. Mexido, não batido."
       Enquanto espero meu drink, decido acender um cigarro. Tiro a piteira da bolsa e coloco-a na boca, quando sou surpreendida por uma mão me oferecendo um isqueiro aceso. O homem por trás do isqueiro é baixinho e pouco atraente. Parece ter confiança demais para alguém com uma aparência tão sem graça.
       "Allow me, darling." − acendo meu cigarro e o garçom coloca meu drink no balcão − "Bill, esse drink e tudo o que a moça beber hoje a noite é por minha conta."
       "Não se preocupe, consigo viver sem gentilezas de homens que não conheço."
       "Não seja por isso. Francis Sinatra. Mas pode me chamar de Frank, baby."
       "Prazer, Lola."
       "Lola, o que um broto como você está fazendo sozinha em um lugar com uma clientela mal-intencionada como esse?"
       "Quem disse que eu sou bem-intencionada?"
       Frank estava prestes a dar uma respostinha inteligente quando foi interrompido por dois homens bêbados que entraram no bar fazendo um escarcéu.
       "Dean! Sammy! Venham cá, seus cães!"
       "Garota nova, Frankie?"
       "Essa é Lola. Conheci-a hoje e ela diz que não tem boas intenções nesse lugar." − Os homens começaram a rir e assobiar. Revirei os olhos e tomei mais um gole do Martini − "Esses são meu bando de ratos. Esse é Dean Martin e esse é Sammy Davies Jr."
       Dou um sorrisinho amarelo e viro o resto do drink.
       "Senhores, acho que devo ir. Obrigada pela bebida, até a próxima vida."
       "Onde você pensa que vai? Você vai ficar aqui com a gente. Bill, limpa a mesa perto do palco para nós."
       Sem muita relutância obedeço Frank e vou me sentar com os homens. Pressinto que tem boa coisa vindo.
       "Bogie! Puxa uma cadeira e senta aqui."
       Olho para a porta e vejo o homem de sobretudo caqui e chapéu Fedora se aproximando. Ele tem muitas rugas na testa e olheiras profundas por causa da bebida. Suas unhas e dentes são manchados de cigarro, mas isso não o torna um homem feio, pelo contrário.
       "Hey, Frankie. Como vai, Dean? Como vai, Sammy?" − diz em uma voz rouca − "Olá, sou Humphrey Bogart, mas me chame de Bogie."
       Ele se senta silenciosamente ao meu lado como se nunca tivesse me visto antes. Os outros três o chamam para jogar sinuca e ele recusa. Ficamos parados olhando a banda sem trocar uma palavra. Como ele é bom nesse jogo!
       "Garçom, um whiskey. Três pedras de gelo. Você quer algo?"
       "Um whiskey também. Cowboy."
       Bogie me olha incrédulo, mas não diz uma palavra. Ele sabe que tramei algo e tenho certeza de que suspeita de alguma coisa, mas decido continuar jogando o jogo dele.
       Nossos whiskeys chegam e a banda dá espaço para uma mulher de cabelos escuros com um vestido de veludo azul que canta uma balada de amor brega dos anos oitenta.
       Tomo meu whiskey rapidamente e olho para o relógio. Onze horas já! Bogart percebe, mas mantém sua calma de sempre.
       "Preciso ir." − recolho rapidamente meus pertences e deixo uma gorjeta para o garçom.
       "Você não vai a lugar nenhum, baby." − diz Bogie segurando meu braço com certa força. Olho para baixo e vejo que tem uma arma apontada para mim.
       Me desvencilho dele e saio com pressa até a porta. Entro no carro e vou o mais rápido possível.
       "Scheiße." − pelo retrovisor vejo que ele está me seguindo.
       Paro no posto de gasolina e vendo que ainda está atrás de mim começo a flertar com o frentista. Bogart sai do carro e finge abastecer seu tanque.
       "Moço, onde tem banheiro por aqui?" − digo com ar inocente.
       "À direita, dona."
       Vou até o banheiro e me tranco. Ainda bem que tem uma janela! Jogo os saltos no lixo e subindo na privada consigo escapar pela janela. Saio correndo e peço carona na estrada para uma senhora idosa. Abro o espelhinho do para-sol e dou uma retocada no pó e no batom. Até que enfim posso seguir meu caminho sem perturbações.
       Chegando na casa toco a campainha. Ele abre para mim com aquela cara de acabado e bêbado que eu tanto odeio. A camisa está suja e amassada e os cabelos grisalhos cheirando a charuto.
       "Olá, querida." − diz me dando um beijo − "Como foi seu dia?"
       "Ótimo." − respondo indo em direção à sala de estar, sem muito entusiasmo − "As crianças já estão na cama?"
       "Não, estão esperando a mãe deles dar um beijo de boa noite."
       "Herbert! Quantas vezes eu tenho que dizer que não é para eles me espera...." − interrompi a frase no momento em que percebi que não estávamos sozinhos.
       "Querida, esse é Humphrey, um velho amigo meu."
       "Olá, senhor Humphrey. Prazer em conhecê-lo."
       "O prazer é meu, senhora." − ele diz com seu tom irônico tão típico, levantando as sobrancelhas.
       "Herb, coloque as crianças na cama, sim? Eu entretenho nosso convidado enquanto isso."
       Como um cachorrinho, o marido sobe as escadas, deixando nós dois a sós.
       "Agora isso é entre nós dois apenas, baby. Eu sei o que você quer, mas não vou deixar isso acontecer."
       "Você realmente acha que tem como me impedir? Você viu o que aconteceu com os que vieram antes de você."
       "Mas comigo é diferente. Você vai jogar pelas minhas regras."
       Antes de ter tempo de responder, fui interrompida pelo imbecil do meu marido que descia as escadas atrapalhado pelo álcool. Vou ajudá-lo e abraço seu pescoço.
        "Querido, está tarde, será que você podia mandar seu amigo voltar outro dia?" − digo no maior charme da manipulação feminina.
       "Claro, querida. Humphrey, lamento dizer que está tarde demais e nós queremos dormir. Vamos combinar um poker semana que vem?"
       "Eu entendo. Vamos combinar sim, Herb, até mais. Até mais....senhora." − se despede com certo desprezo.
       "Até mais, senhor Humphrey." − falo com meu sorrisinho de satisfação no canto dos lábios.        Vejo Bogie sair de casa e entrar em seu carro. Herbert me abraça e beija meu pescoço enquanto eu espio pela janela o fracassado ir embora. "Até mais, darling", penso.
       E enquanto o carro dele vira a esquina, Herbert fica com a cara vermelha, as veias do pescoço e da testa saltadas e olhar vidrado. Pego o copo dele do chão e vou até a cozinha pegar uma toalha.
         "Oh, Herbert...que pena que você não controlava sua bebida...tampouco o que sua própria mulher poderia colocar nela".