Entrei
na sessão de "Pina" com a cabeça de que iria ver um filme típico de
Wim Wenders: com uma direção mais "oriental" (as ações se desenrolando lentamente, como grandes cineastas orientais) e
ao mesmo tempo bem alemã no quesito da precisão nas imagens. Sabia pouco sobre
Pina Bausch, apenas algumas coisas que havia aprendido nas minhas aulas de alemão.
Quando
o filme começou me surpreendi como o fato de ser em 3D nos ajuda a mergulhar e
se sentir parte da plateia do teatro (e as cabeças dos outros espectadores
também). Tive que abandonar algumas ideias pré-concebidas sobre dança e comprar
a linguagem que estavam tentando usar comigo. Não foi fácil. Dança,
especialmente dança moderna, é para mim a forma de arte mais abstrata que tem.
Não é como uma pintura, que te traz uma imagem concreta no momento que você
bate os olhos, nem como teatro, que faz questão de ser muito claro em todos os
movimentos. O bailarino dança sentindo algo que, por ser algo fora da realidade
cotidiana, abre um leque de interpretações, especialmente para os que não têm
olhos treinados para assistir dança.
Só depois do depoimento de uma das bailarinas (que disse que no começo
não entendia a linguagem de Pina e que, de repente, lhe veio a ideia do cabelo
sendo puxado), que consegui entrar de verdade no filme e aos poucos, os
depoimentos foram sendo muito menos importantes do que as danças. Entrei em
êxtase. Queria estar lá, queria saber como me soltar e me libertar tanto quanto
essas pessoas, todas tão diferentes, e que ao mesmo tempo compunham um grupo
uníssono. A beleza da cidade de Wuppertal se confundia com a beleza dos corpos
dos bailarinos, e era como se a natureza e as pessoas estivessem se movendo na
mesma frequência.
Saí
da sessão com vontade de voltar a dançar e com um olhar muito diferente do que
o do começo do filme. Me marcou muito o depoimento de Pina sobre como foi
diferente as vezes que ela fez Café Müller de olhos fechados, uma com os olhos
para frente e a outra com os olhos para baixo.
Fiquei
muito tempo pensando sobre o filme e como alguém consegue coreografar o mesmo
"tipo" de dança com músicas que variam de chanson a fados
portugueses. As coreografias de Pina não são apenas dança, são acima de tudo
teatro. Só que de uma linguagem não convencional.
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