terça-feira, 28 de agosto de 2012

Eu, Selenita


Faz dias e meses que olho esse blog em busca de alguma inspiração para escrever. Não tenho. Não porque não andam acontecendo coisas interessantes na minha vida (o leitor atento perceberá que até grifei algumas das 100 coisas para fazer antes de morrer), mas porque eu mudei.

Hoje em dia não mudo mais meu cabelo a cada seis meses. Cortei todo loiro fora e estou deixando crescer naturalmente há mais de um ano. Não vejo mais tantos filmes quanto antes, aliás mudei minha vocação do cinema para o teatro (pelo menos temporariamente). Estou me aventurando muito mais fora de casa do que na frente do computador. Hoje em dia, eu faço mais do que falo (apesar de ainda falar muito....)

Durante todos esses meses eu conheci gente nova, chutei pra fora da minha vida alguns velhos, mudei de casa, aprendi alemão, me embebedei, entrei na maioridade (os dois nessa ordem), me apaixonei, tive paixões platônicas por inúmeros professores e atores e diretores, entreolhei através das portas da percepção, me decepcionei e cresci.

Eu me formei no colegial. E não passei na faculdade. E não fiz cursinho. E não sabia o que queria fazer da vida (na verdade, eu não queria nada). Comecei um curso técnico de formação de atores, que tranquei para ir daqui há uma semana estudar teatro em Connecticut.

Viajei pela Europa, conheci os canais (cof cof) de Amsterdam, o campo de concentração polonês, o Danúbio de Budapeste, as praias nudistas de Dubrovnik e mais tantas coisas que só a memória guarda.

Acho que esses breves parágrafos podem ser uma boa introdução para o que vem pela frente, minha nova vida semi-adulta. Todas as mudanças que citei acima aconteceram muito rapidamente e em poucos meses me tornei alguém que seria irreconhecível para aqueles que deixaram de me conhecer há dois anos atrás. Apesar do rosto de menina, a cabeça tem a pretensão de achar que envelheceu demais. A verdade é que eu esperava tanto pelo momento da minha idealizada "liberdade", que quando ela chegou mal aguentei todos os fardos que vinham com ela, inclusive aquele de virar mulher.

Não me considero uma pessoa romântica, feminina, tampouco insegura. Para mim, essas eram qualidades tolas e fúteis, qualidades de mulheres estereotipadas. O que ninguém me contou é que eventualmente eu teria um pouco delas em mim, especialmente quando se tratasse do amor (odeio usar essa palavra, mas espero que o leitor a leia o mais "cientificamente" possível). Foi um estranhamento muito grande para mim, e ainda é, perceber que eu não sou vista mais pelos homens como somente a "menininha engraçadinha que gosta de cinema" e ser flertada e conquistada.

Além do mais, com os 18 anos vem o clichezão da responsabilidade. De ter que escolher uma profissão. De massacrar todos os seus sonhos de infância e guardá-los cuidadosamente numa caixinha para ser aberta apenas por seus filhos. Eu tinha e ainda tenho muitos sonhos, entre eles ser detetive particular, atriz, diretora e, é claro, Indiana Jones. Talvez por ter tomado conhecimento cedo que meu pai não era feliz com a profissão escolhida e que minha avó, pianista, era muito satisfeita com o que ela fazia, eu nunca me permiti considerar mínimamente qualquer profissão que envolva escritório. Ou cálculos matemáticos ou qualquer ciência que a escola tenta entulhar na sua cabeça para você escrever no Vestibular e depois esquecer.

Passei muito tempo indecisa sobre o que fazer. Sim, eu adorava cinema, mas e o prazer e o friozinho na barriga das peças de teatro que eu fiz por anos? E além disso, como eu iria me sustentar de qualquer um dos dois? Não, o melhor é ser engenheira, como disse meu pai, o mercado está precisando de engenheiros qualificados. Eu não quero ser nada então.

Não quero ser nada, mas eu quero me expressar! Quero botar pra fora as coisas que eu penso, quero sentir tesão pelo meu trabalho e eu quero FAZER alguma coisa! É, é do teatro que eu tava precisando. E é do teatro que eu vou viver, se tudo der certo.

Querido leitor, talvez eu tenha falado um bando de lorotas, afinal. Fiz você perder três minutos da sua vida tentando te convencer que eu mudei. Talvez eu ainda seja um crianção que acha que cresceu e sabe fazer escolhas e ainda sonha em morar na Lua.

Um comentário:

  1. “O teatro é minha esposa, mas o cinema é minha amante” - Ingmar Bergman

    Boa sorte em seu caminho, que os ventos lhe soprem sempre favoravelmente para onde quiser seguir, voar.


    ps: "O teatro é o começo, o fim, é tudo, enquanto o cinema pertence ao âmbito da prostituição" - Idem

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