quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Com amor, seu stalker


Eu sou um ímã de homens estranhos. Os "creeps", "freaks", ou como você quiser chamá-los. Já tive minha cota de stalkers e obcecados na vida, mas infelizmente nenhum que seja sutil e cortejador o suficiente para me seduzir. Por isso decidi fazer uma lista com as coisas mais estranhas que me foram ditas por tais homens (tenha em mente que nenhum desses são ou já foram íntimos de mim e a maioria das frases foi escrita em redes sociais):

7. "Tinha algo na sua expressão que era muito verdadeira, não sei explicar. Foi algo que realmente me fascinou.. Por isso preciso dizer que você é foda. Espero que possamos sim conversar numa próxima chance."

6. "Você tem olhos de assassina." (Essa na verdade foi bem legal)

5. "Então...viajando, novas experiências....você gostaria de fazer um à três?"
 
4. "A gente podia dar as mãos e se pegar."

3. "Acho que eu posso ir no teu quarto te visitar haha." (Dita por um menino que disse saber onde é meu dormitório)

2. "Eu queria estar dentro de você agora, bem aqui [foto de uma sinagoga]."

1. "Desde que te conheci, tenho retido o desejo que sinto. Te acho atraente, física e mentalmente, por isso gostaria de te tocar e provar de você também."

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Tai Chi

In the waterless green pool in the middle of
the room, sounds and breath, eventual moans of pain.
Each day has a new song,
today was the song of the psycho killers
that follow you through shady hallways.
Sometimes I think "What is Judi Dench doing?"
My arms hurt, but they are floating
in the waterless green pool in the middle of
the room. No one respects the limits of the pool.
They run, they get too close, they cross it, they walk on it.
My legs hurt just like my arms hurt, but more.
I don't understand what is happening to me,
how can I be in two places at the same time?
How am I supposed to wake up and sleep again?

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Acting is like sex

1. You can't make yourself feel something. Let go.
2. "You either do it and don't talk about it or talk about it and don't do it." - H. Bogart
3. You need a good partner
4. It makes you feel free and wild
5. You need to find out what turns you on
6. It often culminates in an out-of-body experience
7. It has to build up
8. You have to get dirty

Bernard Pivot's "Inside the Actors Studio" Questionnaire


1. What is your favorite word?

Sehnsucht

2. What is your least favorite word?

Inapt

3. What turns you on?

Rawness/Wildness

4. What turns you off?

High society

5. What sound or noise do you love?

Howling

6. What sound or noise do you hate?

"Little" constant noises: nails on the table, humming, water, people singing when they have earphones on, etc

7. What is your favorite curse word?

Cocksucker

8. What profession other than your own would you like to attempt?

Opera singer/Archaeologist/Private detective in the 20's

9. What profession would you not like to attempt?

Engineer/Model/Adman

10. If heaven exists, what would you like to hear God say when you arrive at the pearly gates?

"Hemingway's waiting for you right over there with a glass of whiskey."

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

A Morte de Segunda Mão


Para prestar faculdades de teatro no exterior, normalmente é necessário preparar quatro monólogos, dois clássicos e dois contemporâneos. Escolhi um monólogo da Lady Percy de "Henry IV - Part II" em que ela fala sobre o marido falecido com seu sogro. "Mas você fala dele como se não o tivesse perdido", dizia minha professora. "Não sei como é perder alguém", respondo. Nunca perdeu avós? Não. Bisavós? Já, mas era pequena demais para lembrar. Bichos de estimação? Apenas um, mas passou rápido. Pertences de valor? Nada que eu era muito apegada. "Nunca nem terminou um namoro?" "Não".

De fato, sempre tive muita sorte. Meus avós estão em perfeita saúde (apesar da minha avó sempre vir com o papo de "Quando eu morrer..." na conversa) e nunca experienciei nenhuma perda impactante. O máximo de uma experiência de perda que eu tive foi quando eu fui assaltada e levaram caderninhos preciosos que continham meus pensamentos e desenhos. Só. Mas como transformar a pequena dor da perda de cadernos para a dor da perda de um marido? Pior ainda que nunca nem tive um namorado sério na vida.

Continuei praticando meu monólogo, mas minha professora continuava falando a mesma coisa. Mesmo usando minha imaginação, sentia que eu não tinha "bagagem de vida" o suficiente para achar aquele tipo de dor. Eu nunca tive medo de morrer. Tenho um fascínio pela morte/vida após a morte, mas não medo. Sempre tive medo que minha família, meus amigos, morressem antes de mim. Eu sei que esse é meu maior medo e, talvez por isso, seja tão difícil abrir essa caixa de Pandora. Eu tenho tanto medo disso, que convenci a mim mesma há muitos anos que vou morrer antes deles. Ou seja, assim nem existe a possibilidade de sofrer uma perda. Ótimo. Quer dizer, não tão ótimo, porque meu monólogo continuava saindo uma merda.

Hoje fui no enterro do pai de uma amiga minha. Um homem relativamente jovem, da idade dos meus pais. Fui achando que estava lá para ser forte para ela. Fui sem nem conhecer direito o falecido. Quando saíram carregando o caixão, eu gelei. Da cabeça aos pés. Parece até meio clichê, agora que estou lendo, mas é verdade. Eu olhei para aquele caixão e vi todos os membros da minha família, inclusive eu, ali dentro. Eu olhei pra minha amiga e me dei conta de que o pai dela simplesmente não ia estar mais lá. Ela não iria vê-lo no fim de semana. Ela não iria mais ir no cinema com ele. Nem passar o próximo dia dos pais almoçando com ele. Ele sumiu. Se foi.

Naquele momento eu fiquei com medo de morrer. Medo de me colocarem numa caixa apertada e me botarem embaixo da terra. Eu não posso, sou claustrofóbica! Como vão me deixar lá por anos?

Mas o que me chocou mais foi a possibilidade de que a qualquer hora, eu posso passar pela mesma coisa. Posso brigar feio com meu pai um dia e não tê-lo mais no dia seguinte. E por alguns momentos, eu senti como se tivesse perdido uma parte de mim. Eu fiquei emocionada como se fosse meu próprio pai sendo enterrado. Eu mal conhecia o pai da minha amiga, mas tinha algo de errado, algo não estava mais lá. E mesmo depois que fomos para a casa dela tentar animá-la, faltava alguma coisa. Tinha um buraco, um vazio. Como se fosse uma linha do tempo de almoços, festas, formaturas e todas essas coisas que poderiam existir, mas agora não vão mais.

Acho que a morte (para os que ficam vivos) é isso, afinal. Uma esquina em que é obrigatório virar.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Três Tigres Extremos - uma análise de "Um Bonde Chamado Desejo"


"Na primeira vez que ouvi Streetcar, a impressão não era de que continha frases de efeito ou 'poesia', mas de que a língua fluía da alma. A alma de um escritor, uma voz única quase miraculosamente envolvia o palco. Mas impressionantemente, o discurso de cada personagem parecia ao mesmo tempo especificamente deles, eles pareciam livres para declarar seus egos contraditórios ao invés de ficarem presos à necessidade de contar a história da peça." Esse é o relato do dramaturgo Arthur Miller em relação à primeira produção de A Streetcar Named Desire em 1947.

O autor, Tennessee Williams (1911-1983), era notório por sua peça de grande sucesso The Glass Menagerie (1944). Crescendo em uma família opressiva com uma irmã que foi lobotomizada e sendo homossexual assumido, suas peças costumavam tratar de assuntos considerados tabu para a sociedade da época (e até hoje), como doenças mentais, abuso sexual, o desejo sexual da mulher, o papel da mulher na família, machismo, entre outros. Entre suas obras mais famosas estão: Summer and Smoke (1948), The Rose Tattoo (1951), Cat on a Hot Tin Roof (1955), Suddenly Last Summer (1958), Sweet Bird of Youth (1959), The Night of the Iguana (1961), entre outras. Porém sua peça a mais famosa talvez seja Streetcar Named Desire (1947), que teve a primeira montagem em Nova York dirigida pelo célebre Elia Kazan e lançou a carreira do então jovem Marlon Brando. A dupla seguiu com a história em 1952 para o cinema, juntando Vivien Leigh (de Gone With the Wind (1939) ) ao elenco.

A história começa com Blanche DuBois, uma mulher bem vestida de trinta anos, que desce do bonde chamado Desejo (que realmente existia) no pequeno bairro de Campos Elísios no meio do French Quarter em New Orleans. O lugar é onde residem moradores de classe baixa e o berço do blues e do jazz da Louisiana. Após entrar na casa de sua irmã, Blanche bebe discretamente um copo de whisky enquanto espera Stella voltar. As irmãs são reunidas e Blanche pede para ficar na casa de Stella, que aceita, porém a situação não é totalmente agradável para Blanche: a casa só tem dois cômodos, uma espécie de cozinha com sofá-cama e um quarto, separados apenas por uma cortina. Blanche conta que se demitiu de seu emprego como professora e por algum motivo mal-explicado, acabou perdendo a posse da propriedade da família, a plantation Belle Reve. Então chega Stanely, o marido de Stella, que é um homem bruto, com ótimo físico e "polaco", como é chamado pelas duas mulheres. O primeiro encontro de Stanley com Blanche acontece enquanto Stella está no banheiro e já é altamente perceptível que essas duas personalidades vão colidir, com uma mistura de tensão sexual e briga pelo poder sob Stella. A peça continua com a convivência dos três nessa casa com dois cômodos, com a presença de Mitch, um amigo de Stanley que irá cortejar Blanche, e do passado da mesma, que é mais obscuro do que percebemos no começo da história.

Mitologia grega

Tennessee Williams era um amante da mitologia grega e pode-se dizer que todas suas peças tem alguma referência aos deuses gregos e suas histórias. Aqui, a referência mais clara é a dos Campos Elísios, o último lugar de repouso para as almas dos heróis e homens virtuosos. Porém, Streetcar inteiro pode ser interpretado como uma "batalha de deuses", de personalidades.

Stanley é visto como o deus Dionísio, o deus do vinho, da fertilidade e do teatro. Dionísio (ou Baco) é mais conhecido pela lenda grega das Bacantes, que conta que o deus volta a Tebes, o local onde nasceu, onde pune as mulheres pelo povo não acreditar que ele é um deus. As mulheres de Tebes são de certa forma enfeitiçadas por Dionísio e são inconsequentes por estarem sob seu encanto, causando tragédia na cidade. Além das Bacantes que são mulheres que seguem ele para onde ele for. Isso se relaciona a Stanley pelo fato dele ser um homem extremamente sedutor e poderoso em relação às mulheres a sua volta. Um bom exemplo disso é o fato que mesmo depois de bater em Stella quando está bêbado, ela sempre volta para ele.

Stella é vista como Ártemis, a deusa dos animais e das virgens. Uma guerreira, Ártemis é a imagem da mulher independente, que não precisa nem de um homem e está sempre ajudando os animais, que são indefesos em relação aos humanos. Para mim, Stella é um dos personagens mais interessantes, apesar do fato de que na maior parte das produções, ela é deixada um pouco de lado. Stella é uma mulher forte, que tomou suas próprias decisões e saiu de Belle Reve para ir atrás do homem que amava, apesar dele ser pobre e "comum". Stella quer ajudar sua irmã e as pessoas a sua volta a qualquer custo e tem uma bondade inata.

Blanche talvez seja a mais enigmática de todas, podendo ser vista como um pouco dos dois deuses acima e também como Orfeu, que diz a lenda, tocava canções maravilhosas que encantava a todos, até perder seu grande amor Eurídice, e se isolar da sociedade inconsolável cantando suas canções até ser destruído por um grupo de mênades.

A música

Qualquer um que já ouviu falar de New Orleans sabe que a música é uma importante parte da história da cidade. Em Streetcar isso não é diferente. Williams acreditava em um teatro que misturasse as outras artes, e nos anos 40 não é de se impressionar que o cinema o atraísse tanto. A música nessa peça é constante e quase não se tem um momento de silêncio, o que causa um efeito de "trilha sonora" de filme. A sensação é de que os personagens nunca estão sozinhos e de que tem sempre coisas acontecendo ao redor. A maior parte das músicas são jazz e blues, que são rítmos sensuais, tristes e até mesmo agitados. Porém em algumas partes especiais há uma rubrica que diz "toca a Varsouviana". A Varsouviana é uma polka e toca na peça toda vez que Blanche lembra do seu passado, especialmente do seu ex-marido que se matou, pois era a música que tocava no baile quando isso aconteceu. Começa a ficar mais frequente mais ao fim da peça e indica a loucura de Blanche progredindo. Algo interessante de se pensar é o fato de que a polka é uma música típica polonesa e, como sabemos, Stanley tem ascendência polonesa. Talvez exista uma relação entre Stanley "dominar" a cabeça de Blanche e a frequencia com que a Varsouviana toca.

O Sul dos Estados Unidos e a "Southern Belle"

Para mim, Blanche representa o fim de uma geração do sul dos Estados Unidos. Até a Segunda Guerra Mundial, ainda existia os resquícios de uma geração de donos de plantations, que perderam grande parte de suas terras (e todos os seus escravos) com a Guerra de Secessão. Essa classe social extinta era o mais próximo de uma realeza que os Estados Unidos já tiveram, e todos moravam em casas enormes, as terras eram passadas de pai para filho, as mulheres eram bem vestidas (Southern Belles) e tinham casamentos arranjados com homens ricos, etc.

Os DuBois são uma família com esses ideais que foi perdendo seu prestígio e condição econômica e social. Uma das filhas, Stella, fez algo que começava a ser mais comum na época, mas ainda era mal visto: casou-se por amor e fugiu desse meio. A outra filha, Blanche, continuou com esse sonho de ter uma vida ideal. Porém, a realidade foi mudando e decaindo e, cega à nova realidade, Blanche ainda tinha o desejo de viver entre festas, pérolas e peles de raposa, em um mundo onde os homens são gentlemen e as mulheres são damas, totalmente o contrário de sua condição atual e da vida em New Orleans. Sua famosa frase: "Eu não quero realismo, eu quero magia" descreve perfeitamente seus objetivos (assim como a música que ela cantarola no chuveiro, "Paper Moon").

Não é de se espantar que com esse "baque de realidade", Blanche goste de ouvir músicas românticas e sempre ficar fora da luz (para esconder sua verdadeira idade) e que carregue peles falsas e coroas de bijuteria. A peça inteira ela tenta reviver uma época que já não existe mais e um sonho que ela não pode ter.

O sexo e as mulheres

O grande tema da peça, na minha opinião, é o sexo em suas variadas facetas, mas principalmente o desejo sexual feminino.

A sociedade da época era altamente opressora e era inaceitável que uma mulher admitisse sentir desejo sexual, especialmente se fosse em relação a alguém que ela não estava casada. Uma mulher de 30 anos já era considerada velha, e se não estivesse casada, era provável que nunca se casasse. Nesse contexto temos Blanche, uma mulher "de família" que era muito bonita e foi casada uma vez quando era jovem com um garoto que se revelou homossexual e se matou por causa disso. Com o passar dos anos, ela foi tendo encontros "secretos" com homens em um hotel chamado Flamingo e eventualmente teve um caso com um aluno seu, o que resultou na sua expulsão da escola e em muitos rumores sendo espalhados a seu respeito na sua cidade, Laurel. As razões que levaram-na a levar uma vida promíscua podem ser muitas, mas na minha interpretação, a maior razão é o medo (talvez inconsciente) de estar ficando velha e de parar de se sentir desejada pelos homens por causa disso e sua eterna carência.

As duas irmãs são pessoas altamente libidinosas, porém sua atitude e julgamento em relação ao próprio desejo são bem diferentes. Aliás, a própria palavra "desejo" toma diferentes significados durante a peça. Stella dá-se muito bem com isso e aparentemente não tem pudores. Está casada com um homem "macho" e com uma força sexual e atrativa muito fortes e deixa o espectador até questionando se o sexo não é o principal motivo pelo qual ela sempre volta para Stanley, mesmo com ele abusando dela e sendo rude. Isso pode ser visto na notória cena em que Stanley bate em Stella, ela foge com Blanche para o apartamento de cima, ele desesperado vai atrás dela e grita o famoso "Stella! Stella!" e ela volta para ele. Blanche vai atrás da irmã, vê os dois fazendo sexo e volta para o apartamento da vizinha. No dia seguinte, Blanche e Stella discutem enquanto Stella está na cama depois de uma noite intensa, e a primeira tenta convencer a irmã de que ela está numa situação horrível e que precisa ir embora e Stella responde que "Eu não estou em nenhuma situação da qual eu queira cair fora." Mesmo assim, Blanche não entende a atração cega da irmã por Stanley, e ocorre um dos diálogos mais significativos, simbólicos, metafóricos e poéticos da peça:

STELLA - Mas existem coisas que acontecem entre um homem e uma mulher no escuro...que meio que fazem tudo o mais parecer...sem importância.
 BLANCHE - Você está falando é de desejo animal...e só...Desejo!...nome daquele bonde desconjuntado, barulhento, o nome daquele ferro-velho que passa sacolejando pelo French Quarter, subindo uma ruela estreita e descendo outra...
STELLA - E você nunca andou nesse bonde?
BLANCHE - Ele me trouxe aqui...onde não me querem e onde tenho vergonha de estar...

Apesar de parecer pudica, Blanche também é um ser muito sexual, como podemos ver nas interações dela com Mitch e com o menino jornaleiro e até com Stanley. A vida inteira Blanche tentou esconder essa sua faceta. A vida secreta e promíscua que vivia em Laurel é um exemplo disso, além do fato "discreto" dela beber escondido sempre que pode. Até chegar em New Orleans, ela tinha certeza que mantinha isso sob controle, que podia "se dividir" em dois: uma era a Blanche perfeita e de boa índole, que aparece durante a luz do dia e para a maioria das pessoas. A Blanche que precisa de amor e cuidados, que busca o que a sociedade tem de melhor; a outra é a Blanche da noite, que sai com muitos homens e pode fazer o que bem entender. Essa Blanche também usa o sexo como meio de conseguir o amor e a atenção que ela tanto necessita. Quando chega na casa de Stella, tudo isso muda, pois encontra uma coisa que vai fazer a "Blanche perfeita" balançar: Stalney.

Stanley versus Blanche

O aspecto mais interessante da história, na minha opinião é a batalha travada entre Stanley e Blanche. Com uma primeira leitura superficial, parece que os dois se odeiam e vão lutar até a morte. De fato, os dois vão lutar até a morte de um ou de outro, e o que torna isso tão suculento é que, em ótimas montagens, você consegue sentir que a Blanche tem grandes chances de ganhar. A luta é tão intensa, que o final não pode acabar de outro jeito sem ser trágico. Tennessee Williams disse que "Blanche é um tigre. Tigres extremos são destruídos, não derrotados."

O que a primeira vista parece ódio e empatia dos dois lados, com uma leitura mais atenta se revela muito mais do que isso. Como já desenvolvi acima, os dois podem ser considerados deuses, dois poderes muito fortes que vão bater de frente. Stanley é o animal fora da jaula, o homem másculo que não liga pra nada, forte, bonito, sensual, beberrão e com uma intensa força sexual. Blanche tem a mesma energia (é até beberrona que nem Stanley!), mas dentro da jaula. Ela se apresenta como um animalzinho indefeso que precisa dos cuidados de outros. Desde o começo há uma tensão sexual forte entre os dois, e eles se irritam um com o outro por acharem que são completos opostos, mas na verdade é por serem muito parecidos. Identificando muito de si em Stanley e mal conseguindo conter o desejo, Blanche começa a não ter escapatória de seu "verdadeiro eu". Stanley é o que Blanche sempre quis, mas nunca poderia admitir para si mesma, pois vai contra tudo o que ela foi treinada para querer.

Dizem que amor e ódio são duas caras da mesma moeda e, se amor leva a uma relação intensa, ódio também. A batalha dos dois culmina em uma das cenas mais polêmicas de todos os tempos. Stella está no hospital pois está dando à luz e Stanley volta para casa para encontrar uma Blanche à beira de um ataque de nervos, fantasiada com suas ilusões depois que qualquer esperança na realidade já havia lhe abandonado. Ele diz que vai vestir o pijama de seda que só veste em ocasiões especiais, como sua noite de núpcias, e que quando ligarem avisando que seu filho havia nascido, ele rasgaria o pijama e acenaria como uma bandeira. Os dois estão sozinhos em casa. Stanley confronta Blanche com todas as suas mentiras e ela tem a oportunidade de fugir, mas não foge. Ele se põe entre ela e a porta, falando que se ela quer ir embora, pode ir. Ela está totalmente indefesa. Ele sorri e diz "Mas, pensando bem...até que pode não ser má ideia...interferir..." Ela o ameaça com uma garrafa, ele duvida que ela o machuque e pula em direção a ela gritando "Tigre...tigre! Larga esse gargalo! A gente tinha esse encontro marcado desde o início!". As rubricas para o fim da cena são:

Ela geme. O gargalo quebrado cai no chão. Ela cai de joelhos. Ele a pega no colo, uma figura inerte e a leva para a cama. Ouve-se a todo volume o trompete, intenso, sensual, apaixonado, e a bateria que tocam no Four Deuces.

A cena é polêmica porque dá a entender que Blanche foi estuprada por Stanley. Williams não deixa isso totalmente claro, mas é a opção mais plausível. Porém, as questões que ficam são: foi realmente um estupro? Será que a Blanche não queria isso "desde o começo", como botou Stanley? Será que o que ela mais queria não era ser tomada de um jeito animalesco? Por que será que ela não fugiu?

Seja como for, essa é a gota final na batalha interna de Blanche, que acaba destruída e "louca", como meio de negação da realidade. Aliás, não é a única que nega a realidade. Quando questionada por sua vizinha sobre a decisão de considerar Blanche louca e interná-la, Stella diz "Eu não poderia acreditar na história dela e continuar vivendo com Stanley." No fim, Blanche é levada por um médico e uma enfermeira para o hospício, onde solta sua famosa frase "Eu sempre dependi da bondade de estranhos."

Curiosidade: realmente existiram os bondes "Desejo" e "Cemitério" em New Orleans.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Outono


Sábado que vem. Não nesse no próximo. Dia treze de abril. É um dia que acontece todos os anos. Alguns dizem que é dia do beijo. Pessoalmente, nunca fui beijada nesse dia. Alguns anos esse dia cai no meio da semana. Alguns anos ele cai na páscoa. Tem anos que ele cai numa sexta feira e todo mundo comenta que dá azar.

Todo ano nesse dia eu almoço com alguém e janto com outro alguém. No dia seguinte ou alguns dias depois, encontro mais alguéns. Mas não esse ano. Esse ano não tem alguéns para ver. Eu escolhi não ver ninguéns. Esse ano ele vai passar em branco, como se fosse hoje ou amanhã. Como é pra ser.

...

Talvez eu só esteja escrevendo isso pra chamar atenção. Pra sentirem pena de mim. Que escroto. Nunca pensei que fosse chegar nesse nível de egocentrismo. O fato é que eu queria que lembrassem do meu aniversário sem ser por Facebook. E que na verdade eu prefiro não ver ninguém pra evitar lembrar da pessoa que não vai estar lá.

sábado, 23 de março de 2013

Amigos virtuais


Amigos virtuais
Irreais
Comemoram quando veem suas atualizações
Curtem
Te dão os parabéns
Te contam segredos por mensagens
Secretas
E soam mais misteriosos do que realmente são.

Amigos irreais
Virtuais
Não querem saber como você está
Não te tiram de casa
Não te veem quando precisa
Por mensagens
Secretas
Te traem pelas suas costas

Amizades virtuais
Irracionais
Acabam com um botão de "deletar"
Se eu excluísse minha vida virtual
Eu não teria mais amigos.
Não é mesmo?

sexta-feira, 22 de março de 2013

sexta-feira, 15 de março de 2013

Dionísio


Nossos olhos inevitavelmente se encontraram. Não durou muito. Talvez alguns segundos. O suficiente para eu transferir toda mágoa e ódio que sentia e para saber que nunca mais o veria de novo. E nunca mais falaria com ele. Após esses poucos segundos ele fingiu que não tinha me visto e que não me conhecia e eu virei a cara. Não sei o que ele sente em relação a mim. Vergonha, talvez. Mágoa. Saudades, quem sabe? Seja o que for, ele nunca admitiria nem para si mesmo.

Ele já foi um homem muito bonito, charmoso. Hoje em dia é velho demais para ser adolescente, crianção demais para ser adulto. Não sei se seu charme se foi por influências externas ou porque ele já não me encanta mais. Ele já não me encanta mais. Aquele corpo que me era tão desejável, tão atraente, tão carinhoso e indomável agora não passa de um cidadão.

O amor e o ódio sempre foram igualmente poderosos entre nós dois. Durante muito tempo, achei que o amor conseguia ganhar do ódio. Hoje, o jogo mudou. E nem as memórias salvam mais.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Um Cigarro


"Talvez...talvez não era pra ser. (Ela acende um cigarro e dá uma longa tragada em silêncio) Talvez não fosse meu lugar. Talvez fosse só um sonho, como diria meu pai. Não sei.

Penso que sou uma daquelas pessoas com potencial que nunca conseguem sair da cidadezinha do interior, sabe? Que cresce, casa com o namorado do colégio, engravida e fica na mesma cidadezinha pro resto da vida. Aquelas mulheres que sabem inglês, são muito inteligentes, mas foram obrigadas a ficar na mesma cidadezinha que não oferece nada pra elas. Tirando leite da vaca, cuidando do marido e das crianças... (Longa tragada)

Zeus é um sádico. Quanto mais eu tento, mais longe eu fico da minha meta. É como se ele sentisse um prazer danado em dar o doce pra criança e depois tirar. E aí depois botar na boca, mascar e cuspir de volta na cara da criança. (Bate as cinzas, que estão quase caindo)

Às vezes eu acho que nunca vou ser o suficiente. Eu sou sempre boa, mas não "tão boa a ponto de..." que seja. Sou boa companhia, mas não tão boa a ponto de ser namorada. Sou boa artista, mas não tão boa a ponto de me destacar. Sou boa amiga, mas não tão boa a ponto de ser a melhor. Sou boa filha, mas não tão boa a ponto de ser a preferida. Sou boa, não sou ótima. Sou medíocre. (Longa tragada)

Sempre tive vergonha de admitir isso, mas quando eu era criança eu achava que estava destinada pra algo enorme. Eu achei que tinha nascido pra ser uma voz ouvida por todos. Eu não queria mudar o mundo, nem nada, mas achava que seria grande. Que seria um nome de peso. Famosa, if you will.

Eu tinha esse devaneio recorrente de que um dia eu ia voltar pra minha escola numa reunião de vinte anos de formados e todos aqueles que pisaram em mim a vida inteira chorariam de inveja e seriam velhos, gordos e carecas e com empregos horríveis e deprimentes. (Apaga o cigarro) Acho que no fim vai ser o contrário, né?"

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Cowboy Mouth

"Você é tão...foda. Você é um cara muito foda. Eu queria ter te conhecido quando eu era pequena. Não muito pequena, mas naquela fase que você começa a descobrir as coisas, sabe? Quando eu quebrava pedrinhas pra ver o brilho que tinha dentro...Na primeira vez que coloquei meu dedo dentro de mim e senti prazer...Eu ia te levar pra esse esconderijo muito foda que eu tinha, que eu fiz uma cachoeira com pneus e tal. E minha própria cabana! A gente podia tirar a roupa e eu ia olhar pro teu pinto e você ia me mostrar o quão longe você conseguia mijar.

Eu aposto que você teria me protegido. Todo mundo sempre me fodia! Quer saber? Uma vez eu fiz uma peça. E eu tava muito feliz que eu tava numa peça, porque eu achava que teatro era só pra gente bonita e eu tinha meu tapa-olho escroto e aquelas porras de metal pra corrigir meu pé de pato. Era o "Patinho Feio" e eu curtia muito isso por causa do final feliz e tal. E eu era o Patinho Feio! E eu tinha que vestir uma fantasia rasgada e...ouvir bosta de todo mundo, mas eu não ligava, porque no final eu ia ser o Cisne e tal.

Mas sabe o que eles fizeram, Slim? No final da peça eu tinha que me ajoelhar no palco e cobrir minha cara com um pano preto, e essa garota linda loira maravilhosa com um vestido de balé branco surgia atrás de mim como Cisne. Foi uma bosta. Eu nunca consegui ser a porra do Cisne! Eu fiz tudo, eu paguei todas as dívidas e aí surge a bailarina Cathy como uma estrela cadente. E no final, todos os pais ficaram falando de como ela tava bonita.

Eu corri pro meu esconderijo e chorei, e chorei...Os filhos-da-puta...Eu queria te conhecer naquela época. Aposto que você teria me protegido."





Projeto da semana: traduzir "Cowboy Mouth", de Sam Shepard e Patti Smith.

PERSONAGENS:
CAVALE: uma garota que parece um corvo, vestida de preto esfarrapado.

SLIM: um gato que parece um coiote, vestido de vermelho imundo.

Os dois estão acabados pra caralho.

HOMEM LAGOSTA

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Eles Dizem Que Voltei Abrasileirada


"That's so exotic!" they say. "That's so exotic!" - as if I had been taken out of my natural environment and dragged here chained to a boat. There is nothing exotic about being Brazilian. No: we don't ride monkeys, no: we don't play soccer all day long, no: we don't walk around topless or in a bikini. Fruit hats? Nope, we don't use them either. There is no definition of "being Brazilian". Some of us live in cities exactly like New York, others live in cities that resemble L.A., some live in farms and beaches and mountains and small towns, exactly like everyone else in the world. Not all of us live in favelas. We work, drink beer, gamble, drive cars and blow our noses. Some of us are Christians, Jews, Buddhists. Some of us are vegetarians, vegans, allergic to seafood. Some of our kids are too spoiled, others are too poor. Some of our teens are hipsters, others are punks. We have whores and gays and racists and drug addicts. We have streets, alleys and avenues. We have Friends, Two and a Half Men and Big Bang Theory.

What is "exotic" supposed to mean, anyway? Wild? Weird? Gross? Or maybe it's just me. Maybe when I reveal that I'm Brazilian and people are expecting hot brunettes with big boobs and they see a petit Polish-looking chick instead, they can't find any other adjectives. It's like saying someone's hair is beautiful, because you don't want to call them ugly. Like Sonya would say.

I wonder how someone who lives in a country with rednecks and white supremacists, Republicans, hippies, Mexicans, Apaches, instant celebrities and obese people don't think their own culture is "exotic". Maybe they didn't even know Brazil existed.

I'm tired of stereotypes. Just because I like getting naked, doesn't mean everyone in Brazil also does. Also, I don't own bikinis. I can't samba. And by the way, fuck yeah my accent is funny, but at least I speak your language fluently. I'm not touchy-feely, nor do I fuck every guy that comes around. I am not nice. And I don't care that you know Ronaldinho's name, if you don't have anything interesting to say about him, don't even mention. No, I don't know Pelé in person. And I also don't know your friend José Silva that lives in São Paulo. It has 114000000 inhabitants for chrissake!

One last note: if we ever meet, don't tell me that Rio is better than São Paulo. I'll bite your head off.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Fobia


Eu tenho medo de perseguição
De ser assassinada por um estranho
De manequins
De palhaço
De gente que eu amo morrer antes de mim
De rotina
De anorexia
De vingança
De carma
De morrer de inanição
De ter que desistir dos meus sonhos
De muita gente
De skinhead
De pisar em uma aranha descalça
De ter aranhas na privada
De ter que amputar um membro
De ser estuprada
De quebrarem meu nariz
De acabar tendo que virar publicitária
Ou modelo
Ou engenheira
De obesidade
De furacão
De terremoto
De morrer afogada
Do palhaço do Poltergeist
Das gêmeas do Iluminado
De descobrir que alguém lê meus pensamentos
De falar merda
De fazer merda
De me apaixonar
E de escolher um canalha
De compromisso
De família
De guerra civil
De gente correndo muito rápido
De ameaça com arma
De jogar jogo de medo
De filme de terror
De ficar muito doente
De perfurarem meus olhos
De ter que tomar antidepressivo
Ou qualquer remédio
De ser presa
De não conseguir me controlar
De assassinar alguém
De ter instintos canibais
De ser incompreendida
De virar esquizofrênica
De ter câncer no cérebro
De ter um derrame
De ter que depender de alguém
De fazer as decisões erradas
De me arrepender
De nunca descobrir porque as coisas são como são
De ser insignificante
De não deixar uma marca pra trás
De descobrir que não tem nada depois da morte

Now, Freud me.

Blue bird


Das janelas
Dos olhos
Do querer estar do outro lado
Da passagem impedida por um vidro

Pássaro bate
Quebra asa, quebra cabeça, quebra bico
Passarinho indefeso
Queria estar do outro lado

A natureza diz para cuidar, dar água
Ele diz que não tem jeito
A gente sabe que não tem jeito
A gente quer cuidar mesmo assim

Ele pega o pássaro e anda para bem longe
Bem longe para ninguém ver
Pássaro mártir
Homem mártir

Ele quer se provar para si
Ou para os outros?
Ele tem coragem
Mártir

Tira sua bota
Coloca o pássaro no chão
Não sei como foi feito
"Mas foi para o melhor"

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Sampã terra da garoa


São Paulo me deprime. É uma cidade cheia de coisas para fazer, cheia de gente diferente, cheia de oportunidades. Digam o que quiserem. São Paulo me deprime. O preço de suas comidas tira minha fome; Seus ônibus sempre cheios, sujos e complicados tiram minha vontade de saír; Seus protestos me dão vontade de ser politicamente incorreta; Suas pessoas, sempre deprimidas e estressadas, me fazem perder a esperança de que um dia eu possa viver sem terapia.

Não me conformo que a maioria dos meus conhecidos, e eu inclusive, só sabe reclamar. Essa é a base dos assuntos: "Nossa, meu dia foi uma merda" ou "Estou de saco cheio de [insira qualquer coisa estúpida aqui]" ou até mesmo o mais "ousado", "Você viu que babaca o(a) [insira nome aqui]! Ele(a) anda pegando [insira outro nome aqui]." Não sei porque só conseguimos puxar assunto por meio da reclamação. Reclamar do governo, do preço do ônibus, do tempo, da falta de feriados, da violência, da polícia e, é claro, do trânsito. Por incrível que pareça até discutir "cultura" já me deixa cansada ultimamente. Quero menos discussão e mais ação. O pessoal de São Paulo fala muito e faz pouco.

E os jovens de São Paulo? Ser parte da contra-cultura virou modinha de uns três anos para cá. Não é mais dançar funk, vestir vestidos curtos e ser loira que te faz popular. Agora você precisa ouvir bandas indies do interior da Suécia, assistir todos os filmes do Godard, andar de alpargatas, raspar metade do cabelo, fumar Camel, ter um iPhone e tirar fotos com o instagram (de preferência em que você saia todo acabado, se esfregando nas amiguinhas e com um cigarro na mão), ir em baladas underground encher a cara de pó e assim fazer o chamado "alpinismo social". Os jovens de São Paulo hipsterizam os hipsters.

Em 2013 quero saír de São Paulo. Antes que seja tarde demais.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Três anos de Femme Fatale ou Risk. Fail. Risk again.


Hoje o blog comemora três anos! Nunca achei que conseguisse manter um blog por três anos. Faz tempo que não escrevo direito, mas mesmo assim, três anos é um récorde para alguém que não consegue nem manter o mesmo corte de cabelo por mais de seis meses.

Acho que é raro eu escrever da minha vida pessoal aqui. Não gosto muito, me sinto invadida, pois não sei quem lê. Gosto desse anonimato de leitores, apesar que vez ou outra amigos de amigos meus comentam "Nossa, eu adoro seu blog" ou coisa do tipo, o que creep me out pra caramba. Mas essa é uma ocasião especial e um ano novo inspirador.

Quando comecei o blog estava no começo de um dos melhores anos da minha vida e já na reta final da minha vida escolar, o colegial. Sempre gostei muito de cinema e sempre será minha grande paixão. Mas eu estava interessada em estudar isso, em escrever sobre as coisas que eu pensava sobre os filmes, porque não dá para conversar com um DVD. Minha vida girava em torno de filmes e eles eram minha "válvula de escape" do mundo real, que era uma grande merda.

Porém, do outro lado da balança, eu sempre fui apaixonada por fazer teatro. Eu cresci no palco, pois sou filha de bailarina. E o teatro está na minha vida desde criança. Quando eu tinha uns 9 anos, comecei a achar que queria ser atriz. Naquela época, eu era mais influenciada pelos filmes e pelo friozinho na barriga que dá antes de entrar no palco do que por uma experiência concreta. Quando comecei a fazer aulas de teatro e percebi que havia muita gente melhor do que eu, esse virou meu segredo. Eu tinha vergonha de dizer que queria ser atriz, por medo de rirem de mim e falarem que eu sou péssima. Mas eu continuei adorando cinema e um dia me toquei que talvez minha vocação fosse dirigir filmes. Nessa época, eu era influenciada por algumas pessoas experientes da área, o desejo do "poder" e até um pouco de feminismo.

Logo comecei a entrar em cursos de cinema, dirigir e tudo mais. Era ótimo. É ótimo. Eu adoro isso. Mas não sentia tanto tesão quanto estar no palco, no presente, com medo de errar. Eu gosto de errar.

O segundo ano foi um difícil, com apenas um post aqui. Meu ano de decisões, meu ano de finalizações. Citando Paula Vogel em sua peça "How I Learned To Drive": "I am very old, very cynical of the world, and I know it all. In short, I am seventeen years old." ("Eu sou muito velha, muito cínica do mundo e eu sei de tudo. Em suma, eu tenho dezessete anos.") Eu era assim. Eu sabia de tudo. Ninguém podia me questionar ou me ensinar mais nada. Eu tinha um plano de 10 anos para minha vida que incluía uma faculdade em Berlim, uma pós, um trabalho como diretora de cinema, ganhar o Urso de Ouro, Palma de Ouro, Globo de Ouro e tudo mais. Desnecessário dizer que, quando o primeiro item da minha lista caiu, os outros foram por água abaixo. Meu pé voltou ao chão.

Ano passado foi o ano de revisões. O que eu realmente queria da vida, o que eu realmente precisava no momento. E das fontes mais inesperadas, meu caminho foi sendo traçado, mês por mês, pedacinho por pedacinho. Foi um ótimo ano, apesar de ter um começo complicado. Eu comecei a aprender coisas que nunca esperava aprender. E vi que, afinal, a menina de 9 anos poderia estar certa. E que talvez seja uma ideia absurda, mas sempre tem tempo pra fazer outras coisas. Eu gosto de errar.

Quando eu fui para Connecticut, minha escola de teatro tinha um lema. "Risk. Fail. Risk again." Eu gostaria de fechar esse post com a minha versão do lema: "Risk. Fail. Risk again. Fail better."