quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Fobia


Eu tenho medo de perseguição
De ser assassinada por um estranho
De manequins
De palhaço
De gente que eu amo morrer antes de mim
De rotina
De anorexia
De vingança
De carma
De morrer de inanição
De ter que desistir dos meus sonhos
De muita gente
De skinhead
De pisar em uma aranha descalça
De ter aranhas na privada
De ter que amputar um membro
De ser estuprada
De quebrarem meu nariz
De acabar tendo que virar publicitária
Ou modelo
Ou engenheira
De obesidade
De furacão
De terremoto
De morrer afogada
Do palhaço do Poltergeist
Das gêmeas do Iluminado
De descobrir que alguém lê meus pensamentos
De falar merda
De fazer merda
De me apaixonar
E de escolher um canalha
De compromisso
De família
De guerra civil
De gente correndo muito rápido
De ameaça com arma
De jogar jogo de medo
De filme de terror
De ficar muito doente
De perfurarem meus olhos
De ter que tomar antidepressivo
Ou qualquer remédio
De ser presa
De não conseguir me controlar
De assassinar alguém
De ter instintos canibais
De ser incompreendida
De virar esquizofrênica
De ter câncer no cérebro
De ter um derrame
De ter que depender de alguém
De fazer as decisões erradas
De me arrepender
De nunca descobrir porque as coisas são como são
De ser insignificante
De não deixar uma marca pra trás
De descobrir que não tem nada depois da morte

Now, Freud me.

Blue bird


Das janelas
Dos olhos
Do querer estar do outro lado
Da passagem impedida por um vidro

Pássaro bate
Quebra asa, quebra cabeça, quebra bico
Passarinho indefeso
Queria estar do outro lado

A natureza diz para cuidar, dar água
Ele diz que não tem jeito
A gente sabe que não tem jeito
A gente quer cuidar mesmo assim

Ele pega o pássaro e anda para bem longe
Bem longe para ninguém ver
Pássaro mártir
Homem mártir

Ele quer se provar para si
Ou para os outros?
Ele tem coragem
Mártir

Tira sua bota
Coloca o pássaro no chão
Não sei como foi feito
"Mas foi para o melhor"

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Sampã terra da garoa


São Paulo me deprime. É uma cidade cheia de coisas para fazer, cheia de gente diferente, cheia de oportunidades. Digam o que quiserem. São Paulo me deprime. O preço de suas comidas tira minha fome; Seus ônibus sempre cheios, sujos e complicados tiram minha vontade de saír; Seus protestos me dão vontade de ser politicamente incorreta; Suas pessoas, sempre deprimidas e estressadas, me fazem perder a esperança de que um dia eu possa viver sem terapia.

Não me conformo que a maioria dos meus conhecidos, e eu inclusive, só sabe reclamar. Essa é a base dos assuntos: "Nossa, meu dia foi uma merda" ou "Estou de saco cheio de [insira qualquer coisa estúpida aqui]" ou até mesmo o mais "ousado", "Você viu que babaca o(a) [insira nome aqui]! Ele(a) anda pegando [insira outro nome aqui]." Não sei porque só conseguimos puxar assunto por meio da reclamação. Reclamar do governo, do preço do ônibus, do tempo, da falta de feriados, da violência, da polícia e, é claro, do trânsito. Por incrível que pareça até discutir "cultura" já me deixa cansada ultimamente. Quero menos discussão e mais ação. O pessoal de São Paulo fala muito e faz pouco.

E os jovens de São Paulo? Ser parte da contra-cultura virou modinha de uns três anos para cá. Não é mais dançar funk, vestir vestidos curtos e ser loira que te faz popular. Agora você precisa ouvir bandas indies do interior da Suécia, assistir todos os filmes do Godard, andar de alpargatas, raspar metade do cabelo, fumar Camel, ter um iPhone e tirar fotos com o instagram (de preferência em que você saia todo acabado, se esfregando nas amiguinhas e com um cigarro na mão), ir em baladas underground encher a cara de pó e assim fazer o chamado "alpinismo social". Os jovens de São Paulo hipsterizam os hipsters.

Em 2013 quero saír de São Paulo. Antes que seja tarde demais.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Três anos de Femme Fatale ou Risk. Fail. Risk again.


Hoje o blog comemora três anos! Nunca achei que conseguisse manter um blog por três anos. Faz tempo que não escrevo direito, mas mesmo assim, três anos é um récorde para alguém que não consegue nem manter o mesmo corte de cabelo por mais de seis meses.

Acho que é raro eu escrever da minha vida pessoal aqui. Não gosto muito, me sinto invadida, pois não sei quem lê. Gosto desse anonimato de leitores, apesar que vez ou outra amigos de amigos meus comentam "Nossa, eu adoro seu blog" ou coisa do tipo, o que creep me out pra caramba. Mas essa é uma ocasião especial e um ano novo inspirador.

Quando comecei o blog estava no começo de um dos melhores anos da minha vida e já na reta final da minha vida escolar, o colegial. Sempre gostei muito de cinema e sempre será minha grande paixão. Mas eu estava interessada em estudar isso, em escrever sobre as coisas que eu pensava sobre os filmes, porque não dá para conversar com um DVD. Minha vida girava em torno de filmes e eles eram minha "válvula de escape" do mundo real, que era uma grande merda.

Porém, do outro lado da balança, eu sempre fui apaixonada por fazer teatro. Eu cresci no palco, pois sou filha de bailarina. E o teatro está na minha vida desde criança. Quando eu tinha uns 9 anos, comecei a achar que queria ser atriz. Naquela época, eu era mais influenciada pelos filmes e pelo friozinho na barriga que dá antes de entrar no palco do que por uma experiência concreta. Quando comecei a fazer aulas de teatro e percebi que havia muita gente melhor do que eu, esse virou meu segredo. Eu tinha vergonha de dizer que queria ser atriz, por medo de rirem de mim e falarem que eu sou péssima. Mas eu continuei adorando cinema e um dia me toquei que talvez minha vocação fosse dirigir filmes. Nessa época, eu era influenciada por algumas pessoas experientes da área, o desejo do "poder" e até um pouco de feminismo.

Logo comecei a entrar em cursos de cinema, dirigir e tudo mais. Era ótimo. É ótimo. Eu adoro isso. Mas não sentia tanto tesão quanto estar no palco, no presente, com medo de errar. Eu gosto de errar.

O segundo ano foi um difícil, com apenas um post aqui. Meu ano de decisões, meu ano de finalizações. Citando Paula Vogel em sua peça "How I Learned To Drive": "I am very old, very cynical of the world, and I know it all. In short, I am seventeen years old." ("Eu sou muito velha, muito cínica do mundo e eu sei de tudo. Em suma, eu tenho dezessete anos.") Eu era assim. Eu sabia de tudo. Ninguém podia me questionar ou me ensinar mais nada. Eu tinha um plano de 10 anos para minha vida que incluía uma faculdade em Berlim, uma pós, um trabalho como diretora de cinema, ganhar o Urso de Ouro, Palma de Ouro, Globo de Ouro e tudo mais. Desnecessário dizer que, quando o primeiro item da minha lista caiu, os outros foram por água abaixo. Meu pé voltou ao chão.

Ano passado foi o ano de revisões. O que eu realmente queria da vida, o que eu realmente precisava no momento. E das fontes mais inesperadas, meu caminho foi sendo traçado, mês por mês, pedacinho por pedacinho. Foi um ótimo ano, apesar de ter um começo complicado. Eu comecei a aprender coisas que nunca esperava aprender. E vi que, afinal, a menina de 9 anos poderia estar certa. E que talvez seja uma ideia absurda, mas sempre tem tempo pra fazer outras coisas. Eu gosto de errar.

Quando eu fui para Connecticut, minha escola de teatro tinha um lema. "Risk. Fail. Risk again." Eu gostaria de fechar esse post com a minha versão do lema: "Risk. Fail. Risk again. Fail better."